quarta-feira, 2 de março de 2011

TITICA DE LETRINHAS

        As escolas de Morretes  preparavam-se para o desfile de aniversário da cidade. Ensaios das bandas escolares, montagem de carros alegóricos, faixas e cartazes em confecção para serem  conduzidos pelos alunos, enfim toda aquela movimentação que antecede o desfile comemorativo. A Ecologia, assunto novo e vibrante começava a decolar. E foi daí que veio a idéia. Montar uma maquete de bom tamanho mostrando a nossa serra com todos os pontos interessantes : cachoeiras, estações de trem, estradas de ferro e de rodagem, montanhas, tudo seria mostrado na maquete.
         Decisão tomada, só faltava agora escolher quem faria a maquete. Não foi difícil para os organizadores. A pessoa certa para a tarefa era o Constantino Stopinski.   Funcionário do  então ITC(Instituto de Terras e Cartografia), que  sob a presidência do Sr. Lísias Veloso, estava colaborando com as escolas , o Constantino já pintava seus quadros. Então o artista do pincel seria transformado em artista do cinzel e tudo estaria resolvido. Hoje, conversando com o Constantino ele deu muitas risadas ao recordar o episódio porque na verdade, aceitou  a incumbência “meio no grito” e depois coçou a cabeça muitas vezes  preocupado porque nunca tinha feito um trabalho sequer de escultura.
         Mas prossigamos na narrativa. Constantino convocou para ajudá-lo um amigo e colega de trabalho chamado Juarez. E puseram mãos à obra. Primeiro a escolha do material. Cimento e areia tornariam  a maquete muito pesada. A solução veio das próprias escolas que confeccionam materiais de estudo de artes usando uma massa feita de jornais velhos e farinha de trigo.  Depois de juntar esses materiais dirigiram-se, numa manhã de sol, para uma chácara na estrada de  Barreiros. A habitação principal da chácara tinha como inquilino o I.T.C. que a alugara para acomodar as chefias  e funcionários em suas eventuais necessidades.  Constantino e Juarez entregaram-se à tarefa. Pronta a maquete, os dois a deixaram no sol para secar. E voltaram para os seus afazeres com a intenção de retornar à tarde quando, a maquete já seca, seria pintada.
         Por volta da meio dia, nuvens escuras apareceram no céu A ameaça de chuva anteciparia o retorno dos “escultores” à chácara. Advertido pelo Constantino lá foi o Juarez para salvar a maquete da chuva. Quando chegou, a surpresa. A maquete tinha desaparecido. Só restara dela o taboleiro de madeira onde ela fora confeccionada. E aí aproximou-se dele o caseiro do  dono, que residia numa outra casa da chácara. Muito sem jeito ele comunicou que as galinhas dele haviam comido tudo. Só restou ao Juarez voltar à cidade e comunicar ao Constantino o desastre. Desapontado mas não desanimado o Constantino concluiu:  -Temos que fazer outra. Mas desta vez de areia e cimento. Duvido que essa elas comam.
         A nova maquete saiu, ficou muito bonita,  participou do desfile num dos carros alegóricos e depois ficou em exposição por muito tempo no pátio da Casa de Rocha Pombo.
A maquete anterior, feita de jornais e farinha de trigo mostrou os resultados no dia seguinte à tragédia. As galinhas tinham depositado no quintal da chácara o material que haviam devorado e que não apresentava sinais de haver sido digerido pelo tubo digestivo das penosas. O papel estava branquinho e as letrinhas lá estavam impressas possibilitando até a leitura.
Macarrão de letrinhas eu já tinha visto ; mas titica, foi a primeira e única vez.
                  Caros leitores, até a próxima.
                  Prof. Nazir

Um comentário:

  1. Só para registrar: o colega Juarez - eficiente ajudante na obra inusitada - é mais conhecido por "Piroski", apelido que lhe foi dado pelo nosso então chefe Dr. Lysias, Engenheiro Agrônomo.

    ResponderExcluir