OS PECADOS DA LÍNGUA E
O DEVER DE REFREÁ-LA
O título que escolhi para a presente
mensagem é o mesmo que consta na epístola de Tiago, um dos assuntos que, entre
outros, o apóstolo comenta em suas palavras dirigidas à Cristandade.
Transcrevê-lo-ei na parte final desta mensagem. Antes, reproduzo o diálogo
acontecido entre o velho apóstolo, autor da carta, e Matias, o novo servidor do
Evangelho, admitido para ocupar a vaga aberta com a morte de Judas. Esse
diálogo, consta da belíssima mensagem de autoria do espírito que se identifica
como Irmão X, e que, recebida pelo nosso saudoso Chico, está inserida no livro “Pontos
e Contos”. Com o título abaixo,
transcrevo-a na íntegra:
Nas palavras do caminho
Conta-se que
Tiago, o velho apóstolo que permaneceu em Jerusalém, demandava Betânia, junto
de Matias, o sucessor de Judas, no Colégio dos continuadores do Cristo, quando
foi lembrada, repentinamente, a figura do Iscariotes.
Contemplando um
pomar vizinho, Tiago comentou, em resposta às observações do companheiro:
- Este sítio
lembra o horto em que o mestre foi traído. As árvores próximas parecem
esperá-Lo, às lições do crepúsculo, quando o Senhor estimava as meditações mais
profundas. Recordo-me ainda do instante inesperado não obstante os seus avisos.
Judas vinha à frente de oficiais e de soldados que empunhavam lanternas,
varapaus e espadas. Contavam encontrá-Lo à noite, porque Jesus muitas vezes se
alegrava em ministrar-nos ensinamentos, à doce claridade noturna. O Mestre
porém vinha ao encontro dos adversários e estava sorridente e imperturbável.
Olhos
mergulhados nas reminiscências, o apóstolo relembrava:
-Adiantou-se o
infame e beijou-o na face. Estabeleceu-se o tumulto e consumou-se a prisão do
Messias, começando desde então, o nosso martírio.
-Que
insolência! Que homem caviloso esse Judas terrível – replicou Matias, inflamado
no zelo apostólico – dói-me evocar o vulto hediondo do ingrato. Como não
vacilou ele no crime ignominioso?
- Será Judas,
para sempre, a nossa vergonha – exclamou Tiago, arrimando-se ao bordão rústico
-, muitas vezes ouço a argumentação de Pedro, que busca defendê-lo. Ouço e
calo—me, porque, para mim não existem palavras que o escusem. Esse traidor será
um réu diante da Humanidade. Foi ele que entregou o Mestre aos sacerdotes
criminosos e provocou a tragédia do Gólgota. Não tem advogados nem desculpas.
Foi perverso, positivamente infame.
- Como se
abalançou a semelhante absurdo? – indagou o interlocutor – tudo lhe dera o
Senhor, em bênçãos eternas!
- Foi o
espírito diabólico da ambição desregrada – tornou Tiago em voz firme -, Judas
queria absorver a direção do nosso grupo, ombrear com os rabinos do Templo,
cativar a simpatia dos romanos dominadores, criar uma organização financeira,
submeter o próprio Senhor à sua vontade. Pedro costuma afirmar que o celerado
não previa as consequências do ato de traição, nem alimentava o propósito de
eliminar o Messias amado; contudo, não posso admitir a suposição. Judas, por
certo, condenou o Senhor deliberadamente à morte, e talvez fosse ele o
inspirador sutil dos tormentos na cruz. João e Pedro asseveram que o infeliz se
arrependeu e chorou; entretanto, chego a duvidar. Um traidor como aquele não
encontraria pranto nos olhos. Era demasiado perversos para sofrer por alguém.
- Com efeito –
observou Matias -, não devia passar de criminoso vulgar. A sua memória
inspira-me compaixão e vergonha. . .
Depois de ligeira pausa indagou:
- Chegou a
vê-lo antes da morte?
- Não –
replicou Tiago, de maneira significativa – e não sei se me comportaria
fraternalmente se ainda o tivesse ante os olhos. O traídor rmorreu nos laços
diabólicos que teceu com as próprias mãos. Devia descer aos infernos, como
desceu, envolvido em trevas densas. Era um perverso gênio das potências
inferiores.
- E os familiares desse homem cruel? –
interrogou Matias, curioso – porventura
lhe aprovaram a conduta satânica?
Tiago ia
responder, mas alguma coisa lho impediu. O velho apóstolo arregalou os olhos,
interrompeu a marcha e perguntou ao companheiro:
-Quem é aquele que vem lá, vestido em luz
resplandecente?
Assombrado
Matias redarguiu:
- Também vejo, também vejo!
Banhado, agora,
em lágrimas Tiago reconheceu o Messias. Lembrou a narrativa dos discípulos, a
caminho de Emaús, ajoelhou-se reverente, e falou baixinho:
- É o Senhor!
Aproximou-se
Jesus com a majestosa beleza da espiritualidade sublime e parou, por instantes, ao lado dos companheiros.
Contemplou-os compassivamente, como Mestre afetuoso junto a dois aprendizes
humildes. Matias chorava, sem força para erguer os olhos. Tiago, em pranto,
ousou olhá-lo e rogou:
- Senhor, abençoai-nos!
Jesus estendeu
a destra em sinal de amor e, como nada dissesse, o velho galileu considerou:
- Senhor,
podemos voltar para Jerusalém, a fim de receber a vossa vontade e cumpri-la!
- Não Tiago –
respondeu o Cristo, doce e firmemente -, não vou agora à cidade, sigo em missão
de auxílio a Judas.
E sem
acrescentar coisa alguma, continuou a excursão solitária, em sublime silêncio.
Nessa noite,
quando voltou a Jerusalém, o velho Tiago insulou-se da comunidade, e, tomando
os pergaminhos onde começara a escrever sua bela epístola à Cristandade,
anotou, em lágrimas, suas famosas considerações sobre a língua humana.
As considerações sobre a língua humana estão em Tiago 3: 1 a
12, Atos. Trancrevo-as a apartir do título:
Os pecados da língua e
o dever de refreá-la
1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos
de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.
2 Porque todos
tropeçamos em muitas cousas. Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão,
capaz de refrear também todo o seu corpo.
3 Ora se pomos
freios na boca dos cavalos, para nos obedecerem,, também lhe dirigimos o corpo
inteiro.
4 Observai,
igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos dos rijos ventos, por um
pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.
5 Assim também
a língua, pequeno órgão, se gaba de gandes cousas. Vede como uma fagulha põe em
brasa tão grande selva!
6 Ora, a língua
é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros do nosso
corpo, e contamina o corpo inteiro e não só põe em chamas toda a carreira da
existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno.
7 Pois toda
espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido
domada pelo gênero humano;
8 A língua,
porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno
mortífero.
9 Com ela
bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela amaldiçoamos os homens, feitos à
semelhança de Deus:
10 de uma só
boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas cousas
sejam assim.
11 Acaso pode a
fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?
12 Acaso, meus
irmãos, pode a figueira produzir azeite, ou a videira figos? Tão pouco fonte de
água salgada pode dar água doce.
Tiago aborda de novo o assunto em 4: 11 e
12. Transcrevo a partir do título:
A maledicência é
condenada
11 Irmãos, não
faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão, ou julga a seu irmão,
fala mal da lei, e julga a lei; ora se julgas a lei não és observador da lei,
mas juiz.
12 Um só é
Legislador e Juiz, aquele que pode
salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?
Para encerrar os enfoques sobre assunto tão
palpitante, que tem nos textos acima, como palco, acontecimentos de dois
milênios atrás, mas atualíssimos para os dias que correm, quero lembrar fatos
recentes, por mim relatados em postagens anteriores, que tem entre os protagonistas
aqueles que identifiquei como “plantonistas da maledicência”. È incrível que
fatos gerados por medidas administrativas, decididas não por uma pessoa só, mas
por um Conselho de sete membros, que sacramentaram por votação as resoluções
tomadas, sofram distorções tão gritantes e tão absurdamente distantes da
realidade. Decididamente, para aspirar a
uma humanidade mais fraterna e mais feliz temos muito que caminhar e aprender.
Amigos, obrigado pela atenção e até a próxima.
Prof. Nazir