PARNASO
DE ALÉM-TÚMULO
É a primeira obra
psicografada por Francisco Cândido Xavier, ponto de partida para um extenso
trabalho que seria iniciado no ano de 1935, ano da edição do Parnaso de
Além-Túmulo, quando o médium contava apenas vinte e cinco anos. O trabalho se
prolongaria até o ano de 2002, quando, aos 92 anos, ele se despedia, em meio
aos festejos da conquista pelo Brasil, do campeonato mundial de futebol,
realizado naquele ano. No período em que exerceu o mediunato, com a duração de
mais ou menos 70 anos, o trabalho de gigante desse missionário sublime,
produziu 412 livros, nos gêneros literários que haveriam de variar de acordo
com os mensageiros que ditavam as obras ao medianeiro,o qual, pela psicografia
as recebia, para colocar à disposição dos leitores do plano físico.
O “Parnaso de
Além-túmulo”, o livro pioneiro, é de poesias mediúnicas, consta de 297 poemas
os quais têm a lavra de 55 poetas, sendo 47 brasileiros e 8 portugueses.
Relaciono alguns, os mais conhecidos: brasileiros – Artur Azevedo, Augusto dos
Anjos, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cruz e Souza, Emílio de Menezes,
Fagundes Varela, Inácio José de Alvarenga Peixoto, José do Patrocínio, Leôncio
Correia, Luiz Guimarães Junior, Olavo Bilac, Raimundo Correia. Portugueses -
Antero de Quental, Guerra Junqueiro, João de Deus, Júlio Dinis.
Transcrevo abaixo
alguns poemas do Parnaso, fazendo-o, entretanto, aos pares, isto é, primeiro um
trabalho do autor quando ainda no plano físico e depois o mediúnico. Com essa
providência, se a primeira transcrição é de um poema já conhecido do leitor,
ele tem a oportunidade, primeiro de rememorá-lo, depois, de comparar o estilo com o outro, o do Parnaso.
Vamos lá.
Comecemos com
Casimiro de Abreu e o seu popularíssimo “Meus Oito Anos” não antes de citar a
apreciação que, sobre o poeta faz o Prof. Sousa da Silveira: “ O estilo de
Casemiro encanta: suave, espontâneo, simples, conciso, claro, adequado à
ternura dos seus sentimentos de amor e de saudade, à tradução de uma dor
profunda, mas, quase sempre, serena”.
MEUS OITO ANOS
Oh!
Que saudades que tenho
Da
aurora de minha vida,
Da
minha infância querida,
Que
os anos não trazem mais!
Que
amor que sonhos que flores,
Naquelas
tardes fagueiras
À
sombra das bananeiras
Debaixo
dos laranjais!
Como
são belos os dias
Do
despontar da existência!
-
Respira a alma inocência
Como
perfumes a flor;
O
mar – é lago sereno,
O
céu – um manto azulado,
O
mundo – um sonho dourado,
A
vida – um hino de amor!
Que
auroras, que sol, que vida,
Que
noites de melodia,
Naquela
doce alegria,
Naquele
ingênuo folgar
O céu
bordado d’estrelas
A
terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E
a lua beijando o mar!
Oh!
Dias da minha infância!
Oh!
Meu céu de primavera!
Que
doce a vida não era
Nessa
risonha manhã
Em
vez das mágoas de agora
Eu
tinha nessas delícias
De
minha mãe as carícias
E
beijos de minha irmã!
Livre
filho das montanhas,
Eu
ia bem satisfeito,
De
camisa aberta ao peito
-Pés
descalços, braços nus-
Correndo
pelas campinas
À
roda das cachoeiras,
Atrás
das asas ligeiras
Das
borboletas azuis!
Naqueles
tempos ditosos
Ia
colher as pitangas
Trepava
a tirar as mangas,
Brincava
à beira do mar;
Rezava
às Ave-Marias,
Achava
o céu sempre lindo,
Adormecia
sorrindo
E
despertava a cantar!
Oh!
Que saudades que tenho
Da
aurora da minha vida,
Da
minha infância querida
Que
os anos não trazem mais!
-Que
amor,que sonhos, que flores,
Naquelas
tardes fagueiras
À
sombra das bananeiras,
Debaixo
dos laranjais!
Passemos
agora ao poema do mesmo autor, transmitido quando o mesmo já se encontrava no
mundo espiritual e transcrito do “Parnaso” com o título “A minha terra”.
A MINHA TERRA
Que
terno sonho dourado
Das
minhas horas fagueiras
No
recanto das palmeiras
Do
meu querido Brasil
A
vida era um dia lindo
Num
vergel cheio de flores
Cheio
de aroma e esplendores
Sob
um céu primaveril.
A
infância um lago tranquilo
Onde
começa a existência,
Onde
os cisnes da inocência
Bebem
o néctar do amor.
A
mocidade era um hino
De
melodias suaves,
Formada
de trinos de aves
E
de perfumes de flor.
O
dia, manhã ridente,
Numa
canção de alvorada;
A
noite toda estrelada
Após
o doce arrebol;
E
na paisagem querida,
Os
ramos das laranjeiras
E
das frondosas mangueiras
Douradas
à luz do sol!
Oh!
Que clarão dentro dalma
Constantemente
chamando,
O
pensamento sonhando
E
o coração a cantar,
Na
delicada harmonia
Que
nascia da beleza
Do
verde da natureza
Do
verde do lindo mar!
Oh!
Que poema a existência
De
infância e de mocidade,
De
ternura e de saudade,
De
tristeza e de prazer;
Igual
a um canto sublime
Como
uma estrofe inspirada
Na
noite e na madrugada,
Na
tarde e no amanhecer.
De
tudo me lembro e quanto!
A
transparência dos lagos,
As
carícias, os afagos
E
os beijos de minha mãe!
Dos
trinos dos pintassilgos,
Da
melodia das fontes,
As
nuvens nos horizontes
Perdidos
no azul do além.
Quando
eu cruzava as campinas,
Sem
sombras de sofrimento,
Descalço,
com o peito ao vento,
Num
tempo doce e feliz!
Os
pessegueiros floridos,
As
frondes cheias de amora,
O
manto de luz da aurora,
Os
pios das juritis!
Se
a morte aniquila o corpo,
Não
aniquila a lembrança:
Jamais
se extingue a esperança,
Nunca
se extingue o sonhar!
E
à minha terra querida,
Recortada
de palmeiras,
Espero
em horas fagueiras
Um
dia poder voltar.
Prossigamos
agora com Luiz Guimarães Júnior,
trascrevendo a conhecidíssima “Visita à Casa Paterna” presenteada ao público
brasileiro, pelo poeta, ainda na vida física.
VISITA À CASA PATERNA
Como a ave que volta ao
ninho antigo,
Depois
de um longo e tenebroso inverno,
Eu
quis também rever o lar paterno,
O
meu primeiro e virginal abrigo:
Entrei.
Um Gênio carinhoso e amigo,
O
fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me
as mãos,-olhou-me, grave e terno,
E,
passo a passo caminhou comigo.
Era
esta a sala...(Oh! Se me lembro e quanto!)
Em
que da luz noturna à claridade,
Minhas
irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me
em ondas... Resistir quem há de?
Uma
ilusão gemia em cada canto,
Chorava
em cada canto uma saudade.”
Com o soneto “Voltando”, Luiz Guimarães Júnior, já na vida espiritual,
transmite aos leitores uma visão diferente, embora em seu estilo inconfundível,
deixando claro a nós outros que, quando deixamos a vida física pela morte, não
vamos e sim retornamos, pois de lá, do plano espiritual, somos originários.
Além disso, pela leitura atenta à duas últimas estrofes do soneto, vem a
afirmação que entre os espíritas é ponto pacífico: voltamos a nos encontrar e a
conviver com os entes queridos que aqui, na vida física, foram nossos
familiares.
VOLTANDO
Após a longa e frígida
nortada
Da
existência no mundo de invernia,
Busquei
contente a paz que me sorria
No
fim da áspera senda palmilhada.
Voltei.
Nova era a vida, nova a estrada
Que
minhalma extasiada percorria;
Divinal
era a luz que resplendia,
Em
revérberos lindos de alvorada
De
volta, e os mesmos seres que me haviam
Ofertado
na Terra amores santos,
Envoltos
em ternuras e em carinhos
Novamente
no além me ofereciam
Lenitivo
às agruras dos meus prantos,
Nas
carícias risonhas dos caminhos.
Para
encerrar as apresentações desses belos poemas, recorramos a Raimundo Correia
com o popularíssimo “Mal Secreto,” dado
a público quando o poeta ainda envergava, aqui no mundo, a vestimenta física.
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a
dor que mora
N’alma,
e destrói cada ilusão que nasce
Tudo
o que punge, tudo o que devora
O
coração, no rosto se estampasse;
Se
se pudesse, o espírito que chora,
Ver
através da máscara da face,
Quanta
gente,talvez, que inveja agora
Nos
causa, então piedade nos causasse!
Quanta
gente que ri, talvez, consigo
Guarda
um atroz, recôndito inimigo,
Como
invisível chaga cancerosa!
Quanta
gente que ri, talvez existe,
Cuja
ventura única consiste
Em
parecer aos outros venturosa!
No
“Parnaso”, Raimundo nos presenteia com dois poemas intitulados “Sonetos I e
II”. Transcrevo o último pela maior semelhança de estilo com o “Mal Secreto”:
SONETO II
Ah!... se a Terra tivesse o
amor, se cada
Homem
pensasse no tormento alheio,
Se
tudo fosse amor, se cada seio
De
mãe nutrisse os órfãos...Se na estrada
Do
contraste e da dor houvesse o anseio
Do
bem, que ampara a vida torturada,
Que
jamais viu um raio de alvorada
Dentro
da noite eterna que lhe veio
Do
sofrimento que ninguém conhece...
Ah!
Se os homens se amassem nessa estância
A
dor então desapareceria...
A
existência seria a ardente prece
Erguida
a Deus no seio da abundância,
Entre
os hinos da paz e da alegria.
Encerro a presente postagem entregando
aos meus pacientes leitores uma pequena amostra do trabalho mediúnico do nosso
Chico, lembrando que do Parnaso, constam nela apenas três poemas dos 297 que
levantei. O parnaso é a primeira das quatrocentos e doze, as quais englobam
mensagens, romances, assuntos doutrinários, além da literatura em prosa e verso
como arte. Abençoado Chico que cumpriu a sua missão aqui no mundo com humildade
aliada a uma profunda sabedoria, demonstradas
à farta em seus aparecimentos públicos e nas entrevistas que deu à
imprensa falada e escrita e divulgada pela mídia nacional e internacional.
Até
a próxima
Prof. Nazir