Nas
comemorações da Independência, realizadas no dia 7 de setembro de 1988,
atendendo a solicitação das autoridades municipais de Morretes, pronunciei o
discurso relativo à data, em
solenidade realizada na praça Rocha Pombo. Felizmente encontrei em meus arquivos
uma cópia daquele discurso e hoje, ao relê-lo, surpreendo-me com o teor dele,
dando-me fortes indícios de inspiração premonitória dos acontecimentos que
estariam por vir. Na leitura da transcrição abaixo, de trechos daquela peça oratória, peço
aos meus estimados leitores que me acompanhem:
“Descrever
os acontecimentos que culminaram com a nossa independência política, seria
fastidioso, uma vez que eles, são por todos nós, desde os bancos escolares,
sobejamente conhecidos. Importa isto sim, rememorando o marco histórico fincado
no longínquo ano de 1822, jornadear através da história, tirando, dos
incontáveis episódios ocorridos, ilações para os dias atuais.
A história de um povo, que penosamente galga os degraus da evolução, não se
faz somente de altruísmos, mas
também, com lamentáveis atos de prepotência e dominação. Exemplifiquemos com o
raciocínio que se segue.
Quando, em 1822, ganhamos a nossa
liberdade e com entusiasmo chegamos a cantá-la em hinos, deveríamos, por nossa
vez, tê-la dado aos negros que escravizávamos. Afinal, se éramos um povo que
acalentava aspirações legítimas de emancipação, os negros também o eram, e aqui
estavam a contragosto, arrancados à força dos seus lugares de origem. Que
fizemos no entanto? Mantivemo-los em cativeiro ainda pelo dilatado espaço de 66
anos, e o horror desse vilipêndio contra uma raça, foi muito bem expresso pelo
poeta Castro Alves.
Muito longe estamos de resgatar a enorme
dívida nacional para com essa raça tão humilhada e tão sofrida, se levarmos em conta
que os descendentes dos antigos escravos, constituem ainda agora, a maioria dos
habitantes das favelas, dos subúrbios e das periferias de nossas cidades,
limitados quase sempre às profissões mais sacrificiais e menos remuneradas,
sofrendo ainda hoje, o disfarçado preconceito das maiorias
sociais.”
Quando assim me pronunciei, nem de longe eu
imaginava que, alguns meses depois, meu filho embarcaria para Moçambique, país
de onde eram oriundos, no passado, grande número de escravos, caçados e vendidos
para trabalhar em terras brasileiras. Era como se, depois de trabalhar em
assentamentos aqui, contribuindo para
resgatar parte da dívida coletiva que assumíramos, Maurício foi a uma das fontes fornecedoras de
escravos no passado, para lá encerrar a missão de resgate, talvez
individualmente assumida com
aquele país. Foi, diríamos, o epílogo de uma história linda, feita de
dedicação, competência e muito amor. Hoje, substituímos as lágrimas,
inevitáveis pelo vazio da ausência de uma criatura tão presente em nossas
vidas, pela alegria do dever cumprido, por ele, pela galhardia com que levou
até ao fim sua missão e por nós, amigos e familiares, pelo amparo moral tão
necessário que pudemos dar-lhe em todos os momentos.
Amigos, para não cansá-los, encerro o capítulo
de hoje. Voltarei ao assunto na próxima postagem. Há ainda muito que dizer.
Obrigado pela atenção e até a próxima.
Prof.
Nazir