domingo, 23 de novembro de 2014

TAMBURUTACA



                  Quando percorremos embarcados, os rios do nosso litoral que sofrem a influência das marés, e que têm em suas margens, grandes extensões de manguezais, ouvimos, no silêncio daquelas regiões ermas, só quebrado pelo canto dos pássaros, fortes estampidos, muito semelhantes aos que são produzidos pelas espingardas de ar comprimido.
                  Nas minhas andanças de navegador solitário, descendo certa vez de caiaque o rio Jacareí, que é um dos inúmeros afluentes do rio Nhundiaquara, depois de ouvir os estampidos, e movido pela natural curiosidade, perguntei na primeira oportunidade a um dos freqüentadores dos manguezais, que ruído era aquele. A resposta veio prontamente: - É a tamburutaca. Segundo o meu informante a tamburutaca seria um caranguejo de médio porte,bem menor do que aquele que, caçado nos manguezais, frequenta nossas mesas entre os meses de novembro e fevereiro. Como o animal produzia o estampido não me foi explicado e embora o meu desejo de saber preferi  o conhecimento por futuras pesquisas,
                  Como minha curiosidade não estava satisfeita, lembrei-me de consultar o dicionário. No Aurélio, lá estava a palavra e sua significação. “Tamburutaca (var. de tambarutaca, tamarutaca), subst.fem.bras. Designação comum às espécies de crustáceos estomatópodes, de porte avantajado que medem até 34 cm de comprimento embora muitas espécies não ultrapassem  4 cm de comprimento. Com aspecto de louva-deus ou de lagosta difere desta última por serem desprovidas de antenas longas e terem três segmentos de cefalotórax livres bem como pelas patas anteriores preênseis. Vivem no fundo do mar, ocultando-se na lama ou areia e são carnívoras. (sin. Mãe do camarão, lagosta-gafanhoto).“

               Como a versão do dicionário divergia daquela dada pelas pessoas que freqüentavam os manguezais e tinham nessa crença uma tradição, fiquei na dúvida até conhecer um pescador de profissão, que há muitos anos na atividade, conhecia  bem a fauna marinha do nosso litoral.Morador da Ilha do Mel acumulava a prática da pesca com a de dono de uma pousada. Amigo de meu irmão Mussi, quando ele ainda se encontrava  conosco,  acabei eu também fazendo amizade com o pescador. Na primeira oportunidade que se ofereceu quis saber dele que bicho era, afinal, a tamburutaca. E a descrição que ele fez batia com a do dicionário. Agora sim, não havia mais dúvida. Perguntei a ele como eu podia conhecer o animal. E aí ele fez muito mais do que eu esperava. Propô-se a capturar uma , congelá—la e dar-me de presente. Exultei com o oferecimento. Ficou combinado que, quando ele tivesse em mãos um ou dois exemplares, guardá-los-ia no congelador e que quando eu visitasse novamente a ilha, que o procurasse.
                  Com efeito, tempos depois, quando  voltei à ilha e o procurei, lá estavam a minha espera dois exemplares de bom tamanho que me foram entregues por seus familiares já que ele estava ausente ocupado com suas  atividades pesqueiras. Foi pena porque depois disso não tive mais contacto com ele para perguntar e obter a informação de onde e como se tinha dado a captura. Resumindo, voltei para casa levando os bichos com a idéia concretizada posteriormente  de acomodá-los em vidros com álcool para fins de conservação. Presenteei um dos vidros a um amigo que, como eu,era interessado no assunto, e fiquei com o outro por um espaço de tempo que calculo em dois anos. Descartei quando percebi que a matéria em conservação estava se diluindo. Afinal, embora não conhecesse tudo sobre os crustáceos já avançara bastante nas informações.
                  Há semanas, consultando o Google sobre o assunto encontrei informações de várias fontes, escolhi uma que, penso, respondia a inúmeras perguntas que ainda estavam na minha mente. Transcrevo-a abaixo:
                 

                  Stomatopoda
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Estomatópode

Odontodactylus scyllarus
Famílias
Ver texto.
Estomatópode é o nome comum dado aos crustáceos marinhos classificados na sub-classe Hoplocarida, ordem Stomatopoda. Existem cerca de 400 espécies, caracterizadas principalmente pela morfologia de sua segunda pata torácica, que é modificada em apêndice subquelado, lembrando uma pata de louva-a-deus.[1]
Índice
 [esconder
Os estomatópodes são predadores ativos que caçam presas com o auxílio de um sentido de visão muito apurado e capaz de interpretar polarização no espectro ultravioleta e infravermelho). Apresentam uma grande variação de tamanho, que pode ir de poucos milímetros até aproximadamente 40 cm nas espécies maiores. Eles vivem em fundo consolidado, lodoso ou ainda arenoso, onde cavam seus buracos ou aproveitam-se dos orifícios deixados por outros animais para neles se instalar. São animais exclusivamente carnívoros, alimentando-se de camarões, caranguejos, moluscos, peixes e até mesmo outros da mesma ordem. O segundo par de patas, muito desenvolvido, é usado tanto para atacar a presa como para se defender. O urópodo, quando aberto, também funciona para defesa, como um escudo, fechando a galeria em que o animal esteja instalado. A fêmea desova no local onde se abriga e, em caso de perigo, enrola os ovos como uma bola, prendendo-os junto ao corpo até encontrar um abrigo mais protegido.
Também conhecidas como esquilas ou lagosta-boxeadora, espalhadas pelas costas dos mares tropicais e subtropicais. Além das patas, elas apresentam uma silhueta característica, devido ao grande comprimento aparentemente de seu abdómen. Os ovos ficam ligados por uma massa gelatinosa que a mãe carrega contra o ventre até que eclodem, limpando-os sem parar.
São animais que apresentam comportamentos sociais muito variados, desde ameaças visuais contra predadores até comportamentos de côrte. De acordo com a anatomia da sua pata raptorial é possível distinguir entre dois grupos funcionais, as perfuradoras (spearers) ou as esmagadoras (smashers), sendo que cada um dos tipos apresenta sua própria variação comportamental e até mesmo de habitát.
As maiores esmagadoras, tais como exemplares de Odontodactylus scyllarus, são capazes de desferir um dos mais rápidos e violentos golpes do reino animal, um soco que pode apresentar a aceleração de um tiro calibre .22 (equivalente a 720km/h) e uma força de impacto de 60 kg/cm²[2] . Essa força esmagadora é a responsável pelo seu título de "lagosta-boxeadora" e é capaz de facilmente quebrar a carapaça de um caranguejo, as conchas duras e calcificadas de gastrópodes ou até mesmo quebrar o vidro reforçado de um aquário[3] [4]
Estomatópodes podem ser encontrados em quase todo o litoral brasileiro, mas não são animais fáceis de se observar pelos seus hábitos mais furtivos. Devem ser manuseados com muita cautela pois são animais preparados para se defender com força, caso sejam incomodados.

Visão

Esses animais possuem o mais complexo sistema de visão de cores do mundo animal, porque eles podem ver 16 cores primárias, por possuirem 16 pigmentos diferentes em sua retina.
Nossos olhos possuem três tipos desses receptores - que respondem à luz azul, verde e vermelha -, que nos permitem perceber o espectro de cores que vemos. Os cães contam com apenas dois tipos de cones (verde e azul), e é por isso que eles veem tons de azul, verde e um pouco de amarelo. Muitos anfíbios, répteis, aves e insetos possuem quatro tipo de cones, o que significa que espécies dessas classes conseguem ver cores que o nosso cérebro é incapaz de processar. Algumas espécies específicas de borboletas e possivelmente pombos possuem cinco cones de percepeção de cor, o que aumenta ainda mais a quantidade de pigmentos que eles são capazes de perceber. O sistema de visão dos estomatópodes possui doze cones sensíveis à luz e outros quatro que filtram a luz (16 cones no total), o que lhes permite ver cores polarizadas e imagens multispectrais5 .
Como cada cone pode ver cerca de 100 cores, os estomatópodes são capazes de ver 10¹² cores, ou seja, 1 trilhão de cores. Em comparação, o olho humano vê 106 cores, ou seja, 1 milhão de cores apenas. A visão dos estomatópodes é sensível à luz ultravioleta, mas ainda é desconhecido se ela pode distinguir a luz infravermelha6 .

 




                                    De tudo o que foi escrito nas linhas supra, podemos, embora sem a certeza absoluta que seria desejável, tirar as conclusões seguintes: a) como vivem em fundo consolidado lodoso ou arenoso, as tamburutacas podem habitar os manguezais; b) as que lá vivem,tendo nos caranguejos um dos componentes da sua dieta, caçam o crustáceo para devorá-lo; c) a caçada das tamburutacas são feitas ao ar livre, quando a maré está baixa e só por isso provoca o estampido fortíssimo ao esmagar com as patas as suas presas antes de devorá-las; d) são animais de hábitos furtivos, portanto ariscos e difíceis de serem vistos.
                                    Encerro pedindo desculpas por te-los cansado com tantos nomes científicos alguns de leitura difícil. Com o meu abraço até a próxima.

                                    Prof. Nazir

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

RETIRO DOS ARTISTAS




             Na publicação com o título “Voltei” editada neste blog no dia 13 de novembro de 2011, descrevi a trajetória do Sr. Frederico Figner, dando ênfase a sua vida como trabalhador espírita, com atividades diversas na Federação Espírita Brasileira, paralelamente às suas atividades comerciais no setor fonográfico. Naquela publicação, entrei em detalhes sobre o livro em que, já na vida espiritual, com o pseudônimo de Irmão Jacó e pela psicografia  do nosso Chico, o autor descreve em minúcias o seu despertar “no outro lado”. Disse também que um irmão do Sr. Frederico, chamado Emílio, foi morar em Morretes ensejando-me uma convivência com ele e com a esposa de nome Maria. O casal viveu em Morretes até que a doença que acometeu o Sr. Emílio os levasse ao Rio de Janeiro para tratamento junto aos familiares que lá residiam. Não obstante o tratamento a que foi submetido, o Sr. Emílio desencarnou e dona Maria regressou a Morretes  permanecendo na cidade onde se adaptara, até que, por sua vez, cercada pela família que a acolheu, ela igualmente se despedisse. Para completar a descrição de uma vida inteiramente dedicada ao bem, e que trouxe ao nosso país uma valiosíssima contribuição  na área da arte musical e na economia, falo agora de um legado precioso do Sr. Figner chamado   Retiro dos Artistas, destinado a amparar profissionais da área musical na velhice, num tempo em que não existiam ainda os institutos de previdência. Para tanto, incorporo à presente publicação, um dos inúmeros e-mails onde o fato é descrito e mais os registros fotográficos alusivos. Agradeço a atenção e a paciência dos meus prezados leitores aguardando-os com um abraço, o nosso próximo encontro.

Prof. Nazir

RETIRO DOS ARTISTAS

FRED FIGNER

                                OS GRAMOFONES 
Frederico Figner nasceu em dezembro de 1866 em Milewko, na então Tcheco-Eslováquia. 

Ainda muito jovem e buscando ampliar seus horizontes migrou para os Estados Unidos, chegando ao país no momento em que Thomas Edison estava lançando um aparelho que registrava e reproduzia sons por intermédio de cilindros giratórios. Fascinado pela novidade, adquiriu um desses equipamentos e vários rolos de gravação, embarcando com sua preciosa carga em um navio rumo a Belém do Pará, onde chegou em 1891 sem conhecer uma única palavra do Português. 

Naquela cidade começou a exibir a novidade para o público, que pagava para registrar e escutar a própria voz. O sucesso foi imediato e, de Belém, Fred se dirigiu para outras praças, sempre com o gravador a tiracolo. 
Passou por Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador antes de chegar ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, já falando e entendendo um pouquinho do nosso idioma e com um razoável pé de meia. 
Na Cidade Maravilhosa Figure abriu sua primeira loja, a Casa Edison, em um sobrado da Rua Uruguaiana, onde importava e comercializava esses primeiros fonógrafos.




Comercial da Casa Edison da Rua Uruguaiana 

CASA EDISON
 
Por essa mesma época o cientista judeu Emile Berliner tinha acabado de lançar nos Estados Unidos um equipamento de gravação que utilizava discos revestidos com cera, com qualidade sonora superior ao do aparelho de Thomas Edison. 
Fred Figner percebeu de imediato o potencial da nova invenção e transferiu seu estabelecimento de um sobrado da Rua Uruguaiana para uma loja térrea na tradicional Rua do Ouvidor, onde abriu o primeiro estúdio de gravação e varejo de discos do Brasil, em 1900.
Casa Edison da Rua do Ouvidor 

OS PRIMEIROS DISCOS

Os discos fabricados por Figner nessa fase inicial utilizavam cera de carnaúba, eram gravados em apenas uma das faces e tocados em vitrolas movidas a manivela. 
Apesar das limitações técnicas, essa iniciativa representou uma verdadeira revolução para a música popular brasileira, que engatinhava, pois até então os artistas só podiam se apresentar ao vivo ou comercializar suas criações por intermédio de partituras impressas. 
O primeiro disco brasileiro foi gravado na Casa Edison pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano,em 1902. 
Era o lundu “Isto é Bom”, de autoria do seu conterrâneo Xisto da Bahia. 
A partir daí mais e mais artistas começaram a gravar suas composições em discos que eram distribuídos pela Casa Edison do Rio e também pela filial que Figner havia aberto em São Paulo. 
A procura pelos discos cresceu tanto que em 1913 Fred decidiu instalar uma indústria fonográfica de grande porte na Av. 28 de Setembro, Vila Isabel, dando origem ao consagrado selo Odeon.


Discos Odeon 


A MANSÃO FIGNER

Fred Figner era um homem à frente do seu tempo e para coroar o sucesso nos negócios decidiu erguer uma residência que espelhasse seu perfil  empreendedor.
A hoje conhecida Mansão Figner, na Rua Marquês de Abrantes 99, no Flamengo, abriga o Centro Cultural Arte-Sesc e o restaurante Bistrô do Senac.
É considerada um exemplo arquitetônico raro de “casa burguesa do início do século 20”.
Fred Figner utilizou-a como hospital, em 1918, durante a pandemia conhecida como Gripe Espanhola.
Apesar dele próprio estar acometido pela enfermidade, atuou como um prestativo auxiliar de enfermagem, transformando seu palacete em uma improvisada enfermaria de campanha que chegou a abrigar quatorze pacientes em seu interior.



                                     Mansão Figner Hoje 

                                      
 RETIRO DOS ARTISTAS
Fred era um homem generoso e solidário.
Pela própria natureza do trabalho nas suas duas gravadoras havia se tornado amigo de muitos músicos e cantores de sucesso.
Em uma época que antecedeu à criação da Previdência, ficou consternado com a situação de penúria que alguns desses artistas tinham de enfrentar ao chegar à velhice.
Sensibilizado com esse verdadeiro drama social, não titubeou e decidiu doar o terreno, em Jacarepaguá, para a construção da modelar instituição Retiro dos Artistas, que funciona até os dias de hoje
.
           Retiro dos Artistas em Jacarepaguá
                                                
                                             O FINAL

Em 19 de janeiro de 1947, quando faleceu, aos 81 anos de idade, ao se abrir seu testamento, verificou-se que Fred Figner havia destinado parte substancial dos seus bens às obras sociais de Chico Xavier. 
O jornal carioca A Noite Ilustrada publicou editorial em que o judeu Frederico Figner foi honrado, post-mortem, com o merecido título de “o mais brasileiro de todos os estrangeiros”.

sábado, 23 de agosto de 2014

Um legado do Recanto Fraterno - continuação

Na postagem anterior transcrevi a primeira parte do artigo “Esta casa tem goteira”. Nesta, tanscrevo a segunda.

Esta casa tem goteira (II)
            Uma experiência inovadora vem sendo posta em prática pela equipe que a diretoria da União Espírita Jesus Maria José constituiu, para planejar e executar a substituição das atuais casas de madeira do Recanto Fraterno, por casas de alvenaria. É a cobertura feita com laje mista impermeabilizada, com inclinação de 10%.
            Só para lembrar, a laje mista é muito usada hoje em forros e pisos. São trilhos de concreto onde se encaixam tijolos de formato especial para esse fim. Montada a laje, uma camada reforçada de massa de cimento é colocada por cima quando se trata de piso,e massa de acabamento por baixo quando se trata de forro. Em suma, a laje mista, largamente usada, não é nenhuma novidade. Novidade é o seu emprego como cobertura. Foi o que fizemos nas três casas de alvenaria já construídas no Recanto. Novidade também é o que deriva de sua aplicação: a dispensa de ripas e caibros e a ausência, por desnecessário, do forro. Basta que se faça, na parte de baixo da laje de cobertura, um acabamento com massa normal de reboco ou mesmo uma simples pintura nos tijolos e nos trilhos. Livres do forro e da madeira que teríamos de empregar na sua construção, ficamos também livres dos cupins e dos seus afãs de esburacar madeira e produzir aquela serragem que cai lá de cima, e que temos de constantemente  varrer; dos morcegos que não dispondo de forro para se alojar e lá deixar seus excrementos e a fedentina que deles emana, terão que bater noutra freguesia; dos ratos que já não poderão fazer nos forros aquela correria ruidosa na época do acasalamento; das andorinhas e dos pardais que terão que fazer ninhos em outros locais poupando-nos do trabalho de remover periodicamente grandes quantidades de palha e, finalmente dos gambás que já não poderão fazer sobre nossas cabeças os seus passeios barulhentos e até assustadores.
            Para rematar nossas considerações sobre o assunto, façamos referência à laje mista usada como forro e com telhado normal em cima. Admitamos que surja no telhado uma goteira de bom tamanho.Como a laje mista sem camada impermeabilizante e ainda por cima em nível, deixa passar a água por infiltração mas com relativo poder de retenção comparativamente ao forro de madeira, a água vai se acumulando e formando poças em cima da laje invadindo as caixinhas conectoras dos fios elétricos. Consequência: mesmo depois de passada a chuva o gotejamento continuará até que toda a água se esgote. Em outras palavras, goteiras durante a chuva, goteira depois da chuva e ameaça de curto-circuito. Pobres dos moradores!
            Isso é o que tínhamos para transmitir sobre o assunto para os nossos leitores, esperando ter colaborado,  para que nossas experiências, que permitiram compor estas linhas, possam contribuir para dar maior conforto às nossas habitações e tranquilidade aos seus moradores.


Observações finais: as publicações no Jornal do Leste, acima transcritas, são de 1997, decorridos de lá para cá, 17 anos. Como a indústria da construção,  evoluindo como tudo, coloca a disposição do público consumidor constantemente, novos materiais, tornam-se necessárias  algumas correções no que escrevemos. Por exemplo, os forros ofertados agora em PVC, dispensando pintura e isentos dos ataques dos cupins, vem merecendo a preferência dos consumidores. Quer nos parecer entretanto que a laje mista empregada nos moldes da nossa experência, continua válida para os dias atuais. Como já disse no início destas considerações, as casas do Recanto estão lá para conferir. É só entrar, pedir licença e olhar.
            Grato pela atenção e até a próxima.
            Prof. Nazir


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Um legado do Recanto Fraterno

UM LEGADO DO RECANTO FRATERNO

                        Legado, segundo os dicionários, é uma dádiva deixada em testamento. No sentido próprio, bens materiais recebidos como herança. No sentido figurado, algo que beneficia o espírito como um aprendizado, uma experiência que deu certo, ou até mesmo sentimentos como o amor que passamos a sentir pelo trabalho que realizamos, as ligações afetivas que  nos prendem,   não só às pessoas atendidas como a companheiros que trabalham conosco.
                        O legado que recebemos do Recanto Fraterno, e do qual trataremos nesta postagem foi, entre muitos outros,  uma experiência   no setor da construção civil, quando tivemos que substituir as três primeiras casas  do Recanto, que eram de madeira, estavam muito estragadas e deveriam ser demolidas  para que no lugar delas, fossem construídas outras, agora em alvenaria. No planejamento das casas, a não ser pela área um pouco maior, e pela cobertura  da qual falarei mais adiante,quase tudo foi reedição das casas anteriores de madeira: mesmas disposições nas divisões internas,casas sobre pilotis para dar altura e evitar a invasão das águas nas enchentes. Na cobertura a grande inovação. Em lugar da armação de madeira para sustentar vigas, caibros e ripas, uma lage mista com inclinação de 10% assentada nas paredes de alvenaria, tendo por cima uma camada de massa de cimento com impermeabilizante e no bojo tubos flexíveis para os fios elétricos. Como, pelo menos naquele tempo eu ainda não vira nada igual por aqui, fiquei com a cabeça cheia de dúvidas. Daria certo?   Não seria temeridade entrar numa modalidade de cobertura ainda inédita em nosso município?  Por felicidade tínhamos um engenheiro em nossa Diretoria. E aproveito o ensejo para falar dele que  integrou os Conselhos Fiscal e  Deliberativo da instituição entre os anos de 1994 e 2005. Trata-se  do meu amigo Francisco Aurélio do Nascimento Abdnor que além de profissional competente revelou-se um grande companheiro pela firmeza e serenidade com que emitia seus pareceres nas questões administrativas. Foi dele que recebemos o aval para as coberturas além da supervisão nas obras que seriam realizadas e dariam ao Recanto as feições que tem hoje. Eu particularmente tenho com ele uma grande amizade tanto quanto tinha com o pai dele, também nosso colaborador por muitos anos, o saudoso Aurélio. Graças ao Francisco que divide comigo a paternidade do modelo,as onze casas do Recanto estão  a disposição de quem queira conhecê-las. Caracterizam-se pela robustez(se é que posso usar o termo) isso porque, qualquer pessoa que as veja, atesta isso, desde que  atente para os detalhes: ausência de madeira na cobertura o que por si só garante durabilidade para a construção dada a impossibilidade de se abrirem  goteiras,   a primeira porta aberta para a depreciação de uma casa. Sobre o assunto escrevi  dois artigos com os títulos “ Esta casa tem goteira (I) e (II), publicados no “Jornal do Leste”, nas edições de outubro e novembro de 1997, respectivamente. O órgão circulou no litoral na década de 90 e tinha a frente o valoroso Gilberto Gnoato, outro cidadão que se encontra no rol de meus amigos. Abaixo transcrevo  a primeira parte deixando para a próxima postagem a segunda.

Esta casa tem goteira (I)
            A canção que certamente todos conhecem e que ganhou tanta popularidade, retrata fielmente as situações pelas quais muitos de nós já passamos. Por incrível que pareça, apesar do progresso que se fez na área da construção civil, com novos materiais e novas técnicas, a cobertura continua sendo, até hoje, a parte mais frágil de uma casa.
           Levantamos paredes externas e internas, à prova das sacudidelas dos vendavais, mas, para cobrir, metemos caibros e ripas, e por cima, uma tênue cobertura de telhas de barro ou fibro-cimento. E aí, uma lista de pequenos acidentes, dão origem ao pinga-pinga tormentoso: é o vento forte que arranca as telhas, esfrangalhando-as ainda em cima ou estatelando-as no chão, é a pedra que o moleque atirou e vai cair sobre o nosso telhado produzindo avarias, é o material de qualidade inferior que inadvertidamente adquirimos e que depois, por diferenças de bitola não se ajusta, ou ainda, no caso das telhas pregadas ou parafusadas, as rachaduras, porque, com as diferenças de temperatura o material “trabalha.”
            Numa casa onde, a cada chuva as goteiras se tornaram rotina, situações tragi-cômicas são vividas. Imagine o maridão dormindo profundamente. Lá pela madrugada desaba o temporal e a esposa, de sono mais leve sacode-o e sussurra docemente : - Amor, está chovendo, é preciso atender as goteiras.E lá vai o infeliz, arrancado do leito quentinho
com cara de sono e de réu,(mais de réu do que de sono) mobiliza rapidamente bacias, panelas, cubas e tudo o mais que possa aparar os pingos indesejáveis. Instalados os “aparadores” tem início uma verdadeira sinfonia de sons agudos e graves partidos dos recipientes metálicos, e o tom choco dos recipientes de plástico, que vão embalar o sono interrompido do inditoso dono da casa no seu retorno ao leito.
            Você já viu a “operação cabo de vassoura” ou dela já participou algum dia? Ela acontece nas coberturas de telha francesa, com inclinação inferior a 50% e em dependências não forradas. Como se sabe, a telha francesa tem canaletas para que a água flua por elas. Com o tempo, resíduos orgânicos que flutuam na atmosfera, aderem ao telhado, acomodam-se nas canaletas e obstruem-nas causando o extravasamento e finalmente a goteira. Localizada esta, sempre na junção de duas telhas, toma-se uma vassoura e com o cabo imprimem-se movimentos para cima e para baixo até que, como num toque de mágica, o pinga-pinga cessa totalmente. Explicação: o movimento provocou a desobstrução, a água fluiu novamente pelacanaleta e a goteira acabou. Empirismo na construção, empirismo na solução.
            Goteiras levam os donos de uma casa a procurar os profissionais do ramo para consertá-las. E daí ouvirmos, com muita freqüência, reclamações mais ou menos nestes termos:- contratei um homem para tapar uma goteira, ele subiu no telhado,tapou uma e abriu mais três. Agora, quando chove, a casa parece uma peneira.
            Incompetência do profissional? Achamos que não. Os profissionais são como nós, vítimas do empirismo. Imagine um homem, pesando entre sessenta e setenta quilos, pisando em cima de frágeis telhas a procura de uma única quebrada. Até localizá-la, engatinhando sobre uma superfície inclinada que lhe dificulta o equilíbrio, com a maior facilidade poderá acontecer um pisão, uma escorregadela e o peso do trabalhador em cima de uma telha já fragilizada pelo tempo. Quando encontra a telha quebrada e a substitui, mal sabe ele que, sem o notar, já trincou meia dúzia delas.
            Quando construímos nossas casas e as cobrimos com as tradicionais telhas de barro ou de fibro-cimento, não nos damos conta de um fator sumamente importante: a manutenção. Esquecemo-nos  de que, por mais ajustadas que estejam as telhas  que colocamos, um dia haverá quebra pelos acidentes que já mencionamos. E o que acontece quando um profissional vai ao forro de uma casa para localizar e descobrir a causa de uma goteira? Terá que caminhar sobre vigas porque no forro não há um piso onde ele possa deslocar-se com firmeza; terá que locomover-se agachado e até mesmo deitado porque o espaço entre o forro e o telhado é mínimo; terá que desviar-se do emaranhado de fios que constituem a rede elétrica da casa. Por isso, o tipo de cobertura e a armação deveriam ser planejadas no sentido de atender o aspecto manutenção.
            Nossos telhados, variando sua forma através dos tempos apresentam-se hoje com telhas de barro – francesas, capa-canal, portuguesas e romanas, com telhas de fibro-cimento variando na espessura e na dimensão dos canais. Diríamos, numa visão geral, que as chapas de fibro-cimento levam nítida vantagem sobre as telhas de barro no tocante à funcionalidade. Elas são regulares, com encaixes perfeitos entre uma e outra, não têm gretas onde a sujeira se acumule, permitem um menor ponto de inclinação com economia no madeiramento da armação. As modernas telhas de barro não obstante serem pesadas e exigirem uma estrutura reforçada, portanto mais cara, tem a preferência de muitos por serem decorativas. É tudo uma questão de escolha. Alguns esquecem o fator estético e dão preferência à praticidade. Outros preferem o risco de um funcionamento imperfeito em favor da beleza.