domingo, 25 de agosto de 2013

BEM-AVENTURADOS OS SIMPLES






   Dentro da riquíssima literatura espírita destaco o opúsculo que tem o título acima. São cinquenta historietas de fundo moral, buscadas no dia-a-dia, com desfecho quase sempre surpreendente, e que suscitam reflexões profundas.  O livro foi psicografado pelo médium Waldo Vieira no ano de 1962 sendo Valérium o autor espiritual. O médium fez parceria com Chico Xavier em Uberaba e entre os anos de 1958 e 1964 recebeu mediunicamente,  individual ou em conjunto com o Chico, quase duas dezenas de livros, entre os quais se situa o que dá o título a esta postagem. Magistral é o prefácio de Emmanuel, o iluminado espírito que orientava o nosso amado Chico, e que transcrevo a seguir:


        “E subindo ao monte, diante da multidão, o Cristo, acima de tudo, destacou aqueles que o seguiam, despojados da embriaguês gerada pelo vinho da ilusão.

          E comoveu-se ao fitá-los.

          Sim, todos eles estavam pobres, ainda os de cérebro culto e veste impecável.

           Pobres de sutilezas. . .

           Pobres de artifícios. . .

           Desarmados de poderes terrestres. . .

           Destituídos de ambições humanas. . .

          Enterneceu-se Jesus, compreendendo que somente sobre eles, espíritos exonerados da mentira e desenfaixados do personalismo inferior, é que poderia edificar as construções iniciais da Boa Nova e situou-os em primeiro lugar, na glória celeste, proclamando:

        - Bem-aventurados os simples de espírito, porque deles é o reino dos Céus. . .(1)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Pensando neles, os companheiros reencarnados, despretensiosos e sinceros, que desejam aprender com a verdade, Valérium escreveu este livro.

         Entregando-o, pois, aos amigos de esperança firme e coração singelo, rogamos ao Divino Mestre nos faça a todos também simples, a fim de que nos identifiquemos com a grandeza simples do autor e nos coloquemos, igualmente, à sombra acolhedora da bem-aventurança.”

                                                                                                              
EMMANUEL

                Uberaba, 31 de março de 1962.

(1)              No versículo 3, do capítulo 5, do Evangelho  segundo Mateus, a palavra do Cristo expressa-se nestes termos: -  “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus.” 

Nota de Emanuel


         A página que ofereço hoje aos meus leitores, é, na ordem, a quadragésima oitava, das cinquenta pequenas histórias contadas no livro, e está na página 113. Enfoca a questão dos rancores guardados nos corações humanos e da forma como a sabedoria divina, pela lei da reencarnação, corrige as injustiças, tão comuns na vida social e familiar e que a muitos de nós causam revolta, quando delas tomamos conhecimento. Abordemos então o conto, a partir do título:                                  

          
Inúteis, absurdos, paradoxais


Criado com amor, porém com férrea disciplina, muito criança  ainda, já se queixava da falta de liberdade.
Crescia,  desse modo, revoltado, embora o constante carinho no lar.
Completando dezoito anos, fugiu de casa, abolindo as obrigações afetivas. Declarava-se tolhido e cansado.

-Vou viver a minha vida – afirmava
E mudou-se para região muito distante, adotando até mesmo outro nome.
Os anos correram. Ele prosperou. Adquiriu maiores experiências. Ganhou abastança. Casou-se.

Conservava, no entanto, o velho e amargoso ressentimento contra os pais.
Ainda que desconhecesse qualquer notícia, perante a esposa dizia-se órfão.
Uma filha veio enriquecer-lhe a existência.
E, mais tarde, um filho também chegou...
Sentia-se feliz, realizado... Tudo fazia em favor dos filhos, amando-os com extremos de adoração.
Na idade madura, desencarnou, guardando ainda profunda mágoa para com os pais e cultivando profundo amor para com os filhos.
Ao chegar ao Plano Espiritual, entretanto, soube que os filhos eram seus próprios pais renascidos depois de haverem desencarnado em razão da dor incoercível a que se haviam entregues, diante de sua própria fuga...




                                       +++++++++++++++++

        São assim os rancores no coração humano: inúteis, absurdos, paradoxais.

                                       +++++++++++++++++

        Acrescentemos, à  guisa de comentários, que estamos observando diariamente os quadros dolorosos de pais cujos filhos desencarnam, frequentemente em tenra idade, compondo um drama doloroso a que convencionamos chamar de “perdas.” Que embora a separação pela morte física, dos entes que amamos, seja temporária, a dor, principalmente para as mães, afigura-se insuportável. Quando a morte tem como causa doença, acidente ou até mesmo assassinato, os fatos são identificados, com a presença do corpo que a família dá à sepultura, com as providências legais necessárias, e com a retomada da vida depois do fortíssimo abalo. Mas, e quando há um desaparecimento, seja por sequestro, ou como no caso relatado, um sumiço que o próprio filho promove, revoltado com as tentativas de discipliná-lo que os pais faziam e que deram causa a que os genitores, ralados de desgosto, partissem para o mundo espiritual antes da hora marcada?  Neste caso, a correção veio pela recondução dos velhos  pais ao lar do filho para receberem dele a quota de amor que lhes era devida .