sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

JOÃO LOURENÇO AYROSA(Joanito)


            Entre  os amigos  que o destino colocou no meu caminho e que se situa entre os especiais,  figura o Joanito, pessoa com quem convivi desde a nossa meninice.  Foi dessa convivência, destacando-se o período em que fomos companheiros de atividades doutrinárias e assistênciais, na União Espírita Jesus Maria José,  que nasceu a grande amizade que nos uniu e que perdurou, aqui na vida física, até os primeiros dias deste dezembro de 2012, quando ele nos deixou para reingressar na espiritualidade, onde nossa amizade, certamente continuará, pois a mudança no plano de vida, de forma alguma impedirá que continue existindo esse belo sentimento, que une as almas.

            Para os que pertencem às gerações  mais novas, relembro que Joanito, gerenciou por muitos anos a casa de Comércio pertencente a  um dos grupos da família  Malucelli, aquele capitaneado pelo Sr.Marcos Malucelli, ( o nosso conhecidíssimo “Marquinhos”). O estabelecimento que se situou na esquina das ruas 15 de Novembro com José Morais, está desativado em virtude do encerramento das atividades comerciais do grupo e lá permanece, mantendo-se ainda as paredes da antiga edificação, um ótimo espaço para futuro aproveitamento.

            Joanito, como gerente do estabelecimento, gozava da mais absoluta confiança do titular da empresa, e nessa função permaneceu até entrar no gozo de merecida aposentadoria e nessa condição, ainda morou em Morretes por vários anos, mais precisamente, até o mês de março de 1997. A convivência com os familiares e mais as necessidades relativas à saúde, a exigir assistência médica permanente, fê-los, ele e a esposa Dalila, transferirem-se para Curitiba.

          Abro agora o espaço para comentar, fora do âmbito profissional,  as  atividades doutrinárias e assistenciais com que o Joanito, espírita como eu, nos brindou em sua  fértil existência física. Durante 35 anos (de 1962 a 1997), Joanito foi um colaborador valioso da União  Espírita Jesus Maria José, atuando, durante todo esse tempo, como membro dos Conselhos Deliberativo e Fiscal da entidade, além de nos ajudar nas atividades assistenciais do Recanto Fraterno.

             Depois da transferência para Curitiba, durante um tempo apreciável, Joanito descia a Morretes  de quando em quando,  para atender tarefas de natureza administrativa, ligadas aos bens imóveis que deixara aqui em Morretes, bem como pagar mensalidades de entidades às quais continuava associado. Era o ensejo para recebermos a sua visita juntamente com a esposa Dalila e o filho Roberto.

            Nossos contatos foram se tornando raros por motivo das dificuldades naturais relacionadas à idade e à saúde. Como passei a dividir o meu tempo entre Curitiba e Morretes, agasalhei a idéia de fazer uma visita ao velho companheiro. Essa idéia foi sendo protelada até que me chegou a notícia do falecimento do Roberto, o filho que morava com ele. Então tomei consciência de que a projetada visita não poderia ser mais adiada. Procurei na agenda do celular um número de telefone que eu registrara, tempos atrás. Rezei para que o número não tivesse mudado e fiz a ligação. Fui atendido por ele, disse-lhe que pretendia visita-lo ainda naquele dia, e ele alegremente respondeu que estaria me esperando.

            Com o endereço na mão, tomei um ônibus metropolitano que faz uma das linhas da BR 277 e, logo depois das 14 horas, eu estava sendo recebido efusivamente pelo Joanito e pela Dalila. Durante a tarde conversamos rememorando episódios. Muitas emoções foram vividas por nós ambos, o tempo dilatado de ausência deixara-nos sem notícias, um do outro. Ouvi dele  todos os episódios de sua vida ainda desconhecidos de mim, bem como pude relatar-lhe os de minha própria vida. Era o mesmo Joanito de tantos anos, procurando sempre minimizar os problemas  que sabíamos de difícil solução e que ele enfrentava com muita serenidade no mesmo tempo em que exaltava agradecido todas as coisas boas que a vida lhe oferecia, desde as mais modestas até  as mais significativas. Despedi-me dele, da Dalila e do filho do Roberto, o qual depois do falecimento do pai passara a morar com os avós. Prometi uma nova visita para breve desta vez levando comigo a Zelinda. Não houve tempo. Ao voltar de Curitiba nesta semana,  recebi a notícia da sua desencarnação e do sepultamento de seus restos aqui em Morretes. Nada a lamentar a não ser  a minha ausência no sepultamento e a oportunidade perdida de abraçar os familiares e levar-lhes a palavra amiga, pois a separação embora momentânea, é sempre dolorosa .. Ao Joanito, os meus votos de feliz retorno à pátria verdadeira, muito júbilo pelo reencontro com os entes queridos que já lá se encontram, ansiosos por abraçá-lo, e muito   êxito nas novas etapas que o esperam nos futuros caminhos para o progresso espiritual.

                Do amigo Nazir.

             

  

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ANIVERSÁRIO DAS CASAS ESPÍRITAS DE ANTONINA E MORRETES


A Sociedade Espírita Luz e Conforto, de Antonina, fundada no dia 3 de outubro de 1915, e a União Espírita Jesus Maria José, de Morretes, fundada no dia 3 de outubro de 1935,comemoraram, com uma reunião festiva, realizada no dia 6 de outubro próximo passado, o aniversário de fundação de ambas. Conforme vem sendo feito há anos, e pela coincidência do dia e mês da fundação, as duas casas comemoram em conjunto seus aniversários, alternando apenas  o lugar da festa: ano é a entidade antoninense que a sedia, ano é a entidade morretense. Neste  2012, Morretes estava na vez, e organizou para a realização em sua sede, a reunião, que contou com a presença de um grande número de confrades de Paranaguá, Guaratuba, Matinhos, Pontal do Paraná, os quais, se somaram aos donos da festa, os companheiros de Antonina e Morretes. Antes da composição da mesa, formada pela presidente da U.R.E. 1ª Região, Sra. Solange de França, pelo presidente da Sociedade Espírita Luz e Conforto, Sr. Renato Giamberardino, pela presidente da União Espírita Jesus Maria José, Sra Maria de Lourdes Teixeira Triaquim e pelo expositor convidado para o seminário comemorativo, Sr. Edvaldo Kulcheski, foi projetado um vídeo focalizando as duas entidades aniversariantes com a demonstração do trabalho doutrinário e assistencial realizado por elas no transcurso dos noventa e sete anos de existência da Sociedade Espírita Luz e Conforto e dos setenta e sete anos  completados pela União Espírita Jesus Maria José. Fez-se presente, abrilhantando a solenidade com a parte artística, o coral da casa anfitriã, coordenado pelo lidador  Marcelo Geraldo de Matos, que não apenas dirige com muita competência o grupo de cantores como ainda empresta a sua colaboração com  seu violão e sua arte,  para  fazer o acompanhamento. Importante ainda é que se diga, que a data de 3 de outubro, já é comemorativa para a Doutrina Espírita, uma vez que assinala o dia e mês do nascimento do codificador Allan Kardec. Isso explica a abertura do vídeo que mostra  primeiramente uma  foto do codificador e,em textos, mensagens dele sobre a espinhosa missão de ser um missionário reformador.O vídeo, que fará parte integrante desta postagem, foi montado  pelo mesmo  trabalhador incansável da casa, Marcelo Geraldo de Matos. A exposição doutrinária, feita em seminário pelo confrade Edvaldo Kuchelski, versou sobre o tema “Mediunidade”.A festa foi encerrada com um lanche  confraternativo  entre todos os que compareceram e ainda a oportunidade de saborear, juntamente com salgados, os bolos de aniversário, que as duas entidades providenciaram.

         Parabenizo, com muita alegria, as entidades aniversariantes, e particularmente a anfitriã do evento festivo, a União Espírita Jesus Maria José, na pessoa da presidente, Maria de Lourdes Teixeira Triaquim.

         Aos meus pacientes leitores o meu abraço. Até o próximo encontro,

          Prof. Nazir


 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

AMIGOS SOLIDÁRIOS NA DOR DO LUTO


No último sábado deste mês de julho de 2012, aboletei-me em frente ao aparelho de televisão para assistir a mais um depoimento dado por Zelinda, relacionado ao grupo de ajuda,que ela coordena, há já  oito anos, e  cujo nome dá o título a estes comentários.  Como  se tratava de uma entrevista gravada, que a emissora(*) iria reproduzir, pudemos assistir juntos,  ela para conferir a própria postura diante das câmaras e microfones e eu, para  simplesmente assistir pela primeira vez.

            Ao iniciar-se a apresentação pela entrevistadora, Profª Ana Flávia Pegozzo Fedato e tendo diante de mim, imagens e sons perfeitos dos depoimentos prestados pela Zelinda e pela companheira de grupo, Suzana de Oliveira Pimenta, esta psicóloga e mestranda da UFPR, quase não acreditei que estava vivendo um momento como aquele. Ali, na comodidade de uma das salas da residência, podíamos assistir, como se no ambiente da emissora estivéssemos, todos os passos da entrevista e tendo ao meu lado a própria entrevistada. E bendisse o privilégio de ainda estar por aqui, em pleno  século vinte e um, vivendo tão maravilhosas experiências, depois de jornadear a maior parte de minha vida física pelo século vinte.

            Alternando-se nas respostas às perguntas da entrevistadora, Zelinda e Suzana foram compondo o quadro de atividades do grupo, de maneira precisa, ambas falando com muita segurança. Zelinda, historiando o seu ingresso e participação no grupo e a posterior coordenação, Suzana enfocando os problemas que, cada um dos participantes, diante das perdas, tem de enfrentar e resolver com a ajuda do grupo e dos profissionais da área, psicólogos como ela, colaborando nos trabalhos. E ao assistir a gravação da própria entrevista, no ponto em que se referia aos motivos  de seu ingresso e coordenação,  que levaram-na a entregar-se de corpo e alma à tarefa abençoada de amenizar as dores de tantos enlutados, Zelinda, ao mencionar o neto Saulo, falecido aos 14 anos num acidente em Morretes, não conseguiu conter as lágrimas. Naquele momento, como tem acontecido desde que nos tornamos companheiros, ofereci-lhe a mão amiga até que o momento de profunda emoção passasse, repetindo com ela o que dela recebi inúmeras vezes em meus momentos difíceis.

            Para quem não faz ideia do que é o grupo “Amigos Solidários na Dor do Luto” explico resumidademente, esclarecendo todavia, que o histórico,  funcionamento e objetivos, estão explicados detalhadamente no blog que o grupo edita e que tem o seguinte endereço:


            Agora a explicação prometida: trata-se de um grupo que tem por objetivo reunir pessoas que sofrem com a ausência de entes queridos que     faleceram  e que têm nas reuniões um apoio importantíssimo para suportar e superar o momento de profunda tristeza. Importantíssimo ressaltar que muitas das integrantes do grupo, após superarem os períodos de dor e de assenarem a alma, gratas pelo auxílio recebido, permanecem e se entregam às tarefas de também ajudar  às novas que vão chegando. É graças a essa permanência que faz dos Amigos Solidários na Dor do Luto uma verdadeira legião que mistura ex-asssistidos a integrantes permanentes, sempre prontos a arregaçar as mangas e lançar-se ao trabalho,  graças ao qual as iniciativas sob a coordenação de Zelinda são sempre levadas a bom termo.

            Zelinda, desde que abraçou a causa e tornou-se coordenadora do grupo, trabalha incansavelmente no amparo aos que procuram um lenitivo para “a dor que não tem nome”. Irriquieta, no melhor sentido do termo, não limita a sua atividade ao trabalho principal que são as reuniões, ao atendimento telefônico a dezenas de pessoas que ligam ansiosas por serem ouvidas. . Ela vem, já há alguns anos, sempre com a ajuda das voluntárias, promovendo o Natal dos carrinheiros que consiste em arrecadar gêneros e utensílios, incluindo conservas preparadas por ela mesma, para serem distribuídas aos catadores de papel. Essa nova frente de trabalho voluntário, aberta pela Zelinda conta já quatro anos. No último Natal, um fato ocorrido na distribuição merece registro: ao entregar a uma das famílias a cesta básica com alimentos e guloseimas, ouviu de um menino a manifestação do desejo de receber um brinquedo  , insistindo nisso e recusando outras ofertas. Como não dispunha de nada que atendesse aos desejos do menino, Zelinda regressou do trabalho de entrega com a intenção de atendê-lo. Adquiriu uma bola e um carrinho e daí a tarefa mais difícil. Localizar a família e o menino. Saímos de carro, penetramos no bairro onde sabíamos que a família morava, pergunta aqui, pergunta ali, até que, localizados a família e o menino, veio então a alegria incontida de  ver o contentamento do pequeno de posse do tão desejado presente.          Mas o “alvoroço” da nossa querida personagem não fica só nos fatos relatados. Ela descobriu, na leitura de um blog, que lá em Morretes, no lugar chamado Canhembora, existe uma escola municipal, onde os alunos, a maioria oriundos de famílias pobres do lugar, recebem de uma professora abnegada chamada Anency, muito mais do que o ensino regular de uma escola. Zelinda manifestou-me o desejo de conhecer a Escola e a professora e, quando se abriu  a  oportunidade levei-a para o primeiro contacto. Ela se encantou, e imediatamente colocou o seu dinamismo em ação. Como o tempo era de proximidade da Páscoa ela mobilizou-se para proporcionar uma festinha com a distribuição de guloseimas para as crianças e um kit de gêneros destinados às famílias das crianças para o almoço comemorativo na casa de cada uma. Posteriormente, mobilizando doadores amigos, Zelinda propiciou a cada criança  da escola, uniforme e  calçado.        Juntei-me a ela nessas atividades, frequento o grupo não com a regularidade que seria desejável mas,  fazendo presença constante e, desse modo, substituindo as atividades de natureza assistencial e administrativa que exercia na Casa Espírita em Morretes. Lá, onde mantenho residência, continuo presente na instituição integrando um grupo de estudos o que me enseja um contacto semanal com os companheiros que trabalham na Casa e que agora são responsáveis pelo funcionamento.

            Ao encerrar mais este capítulo, parabenizo a Zelinda e sua companheira  Suzana pela entrevista  e com um abraço aos meus pacientes leitores(as), despeço-me. Até a próxima. Prof. Nazir.

(*) Emissora: TV Comunitária de Curitiba.  Programa: Gestão Pública em       debate.  Responsabilidade: Curso Superior Tecnológico de Gestão Pública, Centro Universitário Internacional Olinter.

quarta-feira, 13 de junho de 2012


OS PECADOS DA LÍNGUA E O DEVER DE REFREÁ-LA

         O título que escolhi para a presente mensagem é o mesmo que consta na epístola de Tiago, um dos assuntos que, entre outros, o apóstolo comenta em suas palavras dirigidas à Cristandade. Transcrevê-lo-ei na parte final desta mensagem. Antes, reproduzo o diálogo acontecido entre o velho apóstolo, autor da carta, e Matias, o novo servidor do Evangelho, admitido para ocupar a vaga aberta com a morte de Judas. Esse diálogo, consta da belíssima mensagem de autoria do espírito que se identifica como Irmão X, e que, recebida pelo nosso saudoso Chico, está inserida no livro “Pontos e Contos”. Com o título abaixo,  transcrevo-a na íntegra:

Nas palavras do caminho

         Conta-se que Tiago, o velho apóstolo que permaneceu em Jerusalém, demandava Betânia, junto de Matias, o sucessor de Judas, no Colégio dos continuadores do Cristo, quando foi lembrada, repentinamente, a figura do Iscariotes.

         Contemplando um pomar vizinho, Tiago comentou, em resposta às observações do companheiro:

         - Este sítio lembra o horto em que o mestre foi traído. As árvores próximas parecem esperá-Lo, às lições do crepúsculo, quando o Senhor estimava as meditações mais profundas. Recordo-me ainda do instante inesperado não obstante os seus avisos. Judas vinha à frente de oficiais e de soldados que empunhavam lanternas, varapaus e espadas. Contavam encontrá-Lo à noite, porque Jesus muitas vezes se alegrava em ministrar-nos ensinamentos, à doce claridade noturna. O Mestre porém vinha ao encontro dos adversários e estava sorridente e imperturbável.

         Olhos mergulhados nas reminiscências, o apóstolo relembrava:

         -Adiantou-se o infame e beijou-o na face. Estabeleceu-se o tumulto e consumou-se a prisão do Messias, começando desde então, o nosso martírio.

         -Que insolência! Que homem caviloso esse Judas terrível – replicou Matias, inflamado no zelo apostólico – dói-me evocar o vulto hediondo do ingrato. Como não vacilou ele no crime ignominioso?

         - Será Judas, para sempre, a nossa vergonha – exclamou Tiago, arrimando-se ao bordão rústico -, muitas vezes ouço a argumentação de Pedro, que busca defendê-lo. Ouço e calo—me, porque, para mim não existem palavras que o escusem. Esse traidor será um réu diante da Humanidade. Foi ele que entregou o Mestre aos sacerdotes criminosos e provocou a tragédia do Gólgota. Não tem advogados nem desculpas. Foi perverso, positivamente infame.

         - Como se abalançou a semelhante absurdo? – indagou o interlocutor – tudo lhe dera o Senhor, em bênçãos eternas!

         - Foi o espírito diabólico da ambição desregrada – tornou Tiago em voz firme -, Judas queria absorver a direção do nosso grupo, ombrear com os rabinos do Templo, cativar a simpatia dos romanos dominadores, criar uma organização financeira, submeter o próprio Senhor à sua vontade. Pedro costuma afirmar que o celerado não previa as consequências do ato de traição, nem alimentava o propósito de eliminar o Messias amado; contudo, não posso admitir a suposição. Judas, por certo, condenou o Senhor deliberadamente à morte, e talvez fosse ele o inspirador sutil dos tormentos na cruz. João e Pedro asseveram que o infeliz se arrependeu e chorou; entretanto, chego a duvidar. Um traidor como aquele não encontraria pranto nos olhos. Era demasiado perversos para sofrer por alguém.

         - Com efeito – observou Matias -, não devia passar de criminoso vulgar. A sua memória inspira-me compaixão e vergonha. . .

Depois de ligeira pausa indagou:

         - Chegou a vê-lo antes da morte?

         - Não – replicou Tiago, de maneira significativa – e não sei se me comportaria fraternalmente se ainda o tivesse ante os olhos. O traídor rmorreu nos laços diabólicos que teceu com as próprias mãos. Devia descer aos infernos, como desceu, envolvido em trevas densas. Era um perverso gênio das potências inferiores.

          - E os familiares desse homem cruel? – interrogou  Matias, curioso – porventura lhe aprovaram a conduta satânica?

         Tiago ia responder, mas alguma coisa lho impediu. O velho apóstolo arregalou os olhos, interrompeu a marcha e perguntou ao companheiro:

          -Quem é aquele que vem lá, vestido em luz resplandecente?

         Assombrado Matias redarguiu:

          - Também vejo, também vejo!

         Banhado, agora, em lágrimas Tiago reconheceu o Messias. Lembrou a narrativa dos discípulos, a caminho de Emaús, ajoelhou-se reverente, e falou baixinho:

          - É o Senhor!

         Aproximou-se Jesus com a majestosa beleza da espiritualidade sublime e parou,  por instantes, ao lado dos companheiros. Contemplou-os compassivamente, como Mestre afetuoso junto a dois aprendizes humildes. Matias chorava, sem força para erguer os olhos. Tiago, em pranto, ousou olhá-lo e rogou:

          - Senhor, abençoai-nos!

         Jesus estendeu a destra em sinal de amor e, como nada dissesse, o velho galileu considerou:

         - Senhor, podemos voltar para Jerusalém, a fim de receber a vossa vontade e cumpri-la!

         - Não Tiago – respondeu o Cristo, doce e firmemente -, não vou agora à cidade, sigo em missão de auxílio a Judas.

         E sem acrescentar coisa alguma, continuou a excursão solitária, em sublime silêncio.

         Nessa noite, quando voltou a Jerusalém, o velho Tiago insulou-se da comunidade, e, tomando os pergaminhos onde começara a escrever sua bela epístola à Cristandade, anotou, em lágrimas, suas famosas considerações sobre a língua humana.

        

         As considerações sobre a língua humana estão em Tiago 3: 1 a 12, Atos. Trancrevo-as a apartir do título:

Os pecados da língua e o dever de refreá-la

       1          Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.

         2 Porque todos tropeçamos em muitas cousas. Se alguém não tropeça no falar é perfeito varão, capaz de refrear também todo o seu corpo.

         3 Ora se pomos freios na boca dos cavalos, para nos obedecerem,, também lhe dirigimos o corpo inteiro.

         4 Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos dos rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.

         5 Assim também a língua, pequeno órgão, se gaba de gandes cousas. Vede como uma fagulha põe em brasa tão grande selva!

         6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros do nosso corpo, e contamina o corpo inteiro e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno.

         7 Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano;

         8 A língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero.

         9 Com ela bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus:

         10 de uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas cousas sejam assim.

         11 Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?

         12 Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeite, ou a videira figos? Tão pouco fonte de água salgada pode dar água doce.

         Tiago aborda de novo o assunto em 4: 11 e 12. Transcrevo a partir do título:

A maledicência é condenada

         11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão, ou julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora se julgas a lei não és observador da lei, mas juiz.

         12 Um só é Legislador e Juiz,  aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?



         Para encerrar os enfoques sobre assunto tão palpitante, que tem nos textos acima, como palco, acontecimentos de dois milênios atrás, mas atualíssimos para os dias que correm, quero lembrar fatos recentes, por mim relatados em postagens anteriores, que tem entre os protagonistas aqueles que identifiquei como “plantonistas da maledicência”. È incrível que fatos gerados por medidas administrativas, decididas não por uma pessoa só, mas por um Conselho de sete membros, que sacramentaram por votação as resoluções tomadas, sofram distorções tão gritantes e tão absurdamente distantes da realidade. Decididamente, para  aspirar a uma humanidade mais fraterna e mais feliz temos muito que caminhar e aprender.

         Amigos, obrigado pela atenção e até a próxima.

        Prof. Nazir

quinta-feira, 10 de maio de 2012


HISTÓRIAS DO RECANTO (III)



             Ano de 1981.  O Recanto Fraterno, composto ainda, em sua totalidade,  por casas de madeira , fazia um atendimento generalizado, de acordo com a orientação adotada pelos dirigentes, tanto  da  casa assistencial, como da Diretoria da entidade mater, a  União Espírita Jesus Maria José.  Assim, não apenas as famílias em situação difícil, por motivo de viuvez, eram atendidas, como também, mulheres com filhos, em situação de desamparo, levadas a essa condição por fatores acidentais(abandono da parte dos maridos e situação familiar precária nos casos da necessidade de socorro urgente).

            Em um dia que não posso precisar,  do ano de 1981,  à noitinha, recebi um telefonema. Era da Delegacia da Polícia Civil. Alguém daquela repartição me solicitava acomodação para uma família composta de mãe e quatro filhos menores. Narrou-me, em breve relato, o caso. Um indivíduo fora pilhado tentando roubar um carro. Surpreendido pelo próprio dono, fugiu, deixando para trás uma mulher e  quatro crianças. A versão sobre o delito e suas causas era de que o infeliz delinquente seria parceiro da mulher, queria voltar para Curitiba e daí para Santo Angelo no Rio Grande do Sul, de onde viera. Sem  meios para tal, intentara roubar o veículo  para retornar.  A tentativa de roubo e a fuga dele, para evitar a prisão com todas as suas consequências, gerou um mal-entendido que  deixaria a mulher e os filhos à mercê dos acontecimentos, os quais deveriam traçar na história daquela mãe  novos rumos à sua vida, até então bastante atribulada. Esse mal-entendido será desfeito nesta crônica, quando daremos a palavra à Dirlei, esse o nome da nossa personagem, para que ela dê a versão verdadeira de tudo o que aconteceu naquele  dia.

            O apelo que recebi, era para que, pelo menos por aquela noite, mulher e filhos fossem acomodados, a fim de evitar que passassem a  noite na Delegacia,  local totalmente inadequado para a permanência, principalmente de crianças. Felizmente tinhamos uma casa vazia e nela, Dirlei e os filhos foram acomodados. Isso foi há trinta anos. Impossivel portanto, guardar na memória os pequenos detalhes, embora possamos, por dedução, dizer que toda a assistência foi prestada para que a família, que entrava  para o rol dos nossos assistidos, pudesse dispor do  principal , para aquele primeiro momento: leitos e alimentação para todos.

            Acomodada numa das casinhas com os filhos, Dirlei, nos dias que se seguiram, examinando a situação e convencida de que, a curto  prazo, não teria como solucionar o seu problema de trabalhar para sustentar os filhos, e  morar pagando aluguel,  após consulta à Direção do Recanto, obteve permissão para  lá permanecer   por tempo indeterminado. Começou a trabalhar como diarista nas casas que lhe davam serviço e ainda em outros lugares, chegando também a prestar serviços em lavouras nos dias em que folgava no trabalho das casas.  Matriculou os filhos, todos em   idade escolar, nas escolas da cidade e prosseguiu na lida, incansavelmente, para que nada faltasse a eles.  

            Cinco anos se passaram. Com dois dos filhos já adolescentes, e ela trabalhando agora como doméstica mas com carteira assinada, e como fruto do entendimento com a Direção do Recanto Fraterno, Dirlei, resolveu que podia dispensar a assistência da instituição e alugar uma casa. Então com o apoio dos dirigentes do Recanto, conseguiu na rua Coronel Modesto uma,  cujo aluguel cabia no seu orçamento e fez a mudança.

            A partir daí, a família de Dirlei foi aos poucos se organizando, os filhos mais velhos começaram a trabalhar, mudou de casa duas vezes, suas três  filhas estão hoje casadas proporcionando a ela, depois de uma longa jornada e muitas batalhas vencidas, a satisfação de ver a família crescer com a vinda de sete netos. Conseguiu, pelas qualidades  reveladas persistentemente  nas tarefas que desempenhou, um emprego, desta vez numa empresa, lá trabalhando até se aposentar. Pela bravura com que enfrentou as adversidades,  sagrando-se a grande vencedora que nela reconhecemos, Dirlei  mereceria, sem favor nenhum, quando estamos há poucos dias de comemorar o Dia das Mães, o  título de mulher símbolo pois, como ela, dezenas, centenas, milhares de mulheres, têm assumido sozinhas os encargos familiares, porque os maridos ou companheiros sumiram. Por isso me sinto gratificado pela oportunidade destes relatos pois desse modo resgatamos a verdade em torno da vida dessa valorosa mulher ao mesmo tempo em que mostramos a validade do tipo de assistência que o Recanto Fraterno prestou durante tantos anos de uma forma condizente com o tipo de necessidade a atender e às condições da casa assistencial perfeitamente adaptada para tal.  

Agora está com a palavra a Dirlei para  contar sua história :  

      -  Nasci em Ponta Grossa, neste Estado,tendo lá vivido meus períodos de infância e juventude. Do homem que entrou em minha vida e com o qual tive o meu primeiro relacionamento, nasceram-me os dois primeiros filhos: Fábio e Sílvia. Essa relação, chegou ao fim por motivo de abandono por parte dele. Resolvi tentar a sorte em Curitiba e com meus filhos fui morar numa peça que aluguei e empreguei-me como zeladora num  prédio situado nas proximidades. Depois de alguns anos morando em Curitiba, fui, a convite de uma amiga fazer um passeio que incluía  Paranaguá e Morretes. Nesta última cidade conheci o homem com o qual teria o meu segundo relacionamento. Convidada por ele, fui para a cidade de Santo Ângelo no Rio Grande do Sul e lá vivendo com esse novo companheiro pelo espaço de 7 anos, nasceram-me as duas últimas filhas, Adriane e Juliana. No final desse período, tendo descoberto que meu companheiro dividia o tempo entre a casa da família e casas de meretrício, resolvi deixá-lo. Então voltei para o Paraná com os quatro filhos tendo se juntado a nós um menino de 15 anos, filho da proprietária da casa onde eu morara de aluguel. Com o consentimento da mãe e porque o menino aparentava ser bom concordei que ele nos acompanhasse. O que eu não sabia é que ele, em Santo Ângelo, já frequentara, com aquela idade, a escola do crime e que,   contra ele já corriam inúmeros processos pelo mais variados delitos. Viemos a Morretes e aqui chegando procurei minha sogra buscando apoio para recomeçar minha vida. Ela nos recebeu mas de imediato rejeitou a presença do garoto tendo ele tomado a decisão de voltar para Santo Ângelo. Eu e meus filhos fomos acompanhá-lo até o embarque imaginando que ele tomaria um ônibus para Curitiba para de lá embarcar para o Rio Grande do Sul. E aí tivemos a surpresa de, pela tentativa de roubo e fuga do garoto sermos envolvidos, e ficarmos detidos na Delegacia, naturalmente para averiguações. O encaminhamento para o Recanto  Fraterno foi uma bênção que nos permitiu retomar nossas vidas sob o amparo daquela instituição. Hoje moro numa casa de aluguel muito confortável alimentando  a esperança de ainda ter minha casa própria. Minhas três filhas estão casadas morando, a Silvia em Camboriu, Santa Catarina, Adriane e Juliana em Curitiba e Fábio, o únaico filho homem, ainda solteiro, mora comigo.

            Retomo agora a narrativa para as conclusões. Dessa  jornada de trabalho exaustivo, de preocupações constantes com os filhos, ficou pelo menos uma sequela preocupante: a dependência de remédio dos chamados “ tarja preta”  já que os nervos cobram hoje o tributo de tantas situações difíceis vividas no passado.  Dirlei tem consciência disso e por certo está  enfrentando já, esse novo desafio. Confiamos na sua garra tantas veze demonstrada,  para descartar-se do recurso medicamentoso que  tão valioso(sejamos justos) lhe foi no passado, mas que agora, tornou-se um fardo.  Para a Dirlei, neste encerramento o meu recado. Conte com a nossa solidariedade e nossas orações. Problemas familiares? São raras as famílias que não os têm. Rusgas entre familiares principalmente entre e mâes e filhos(as)? Bastar acionar uma alavanca chamada Amor e a paz volta a reinar. Um cumprimento muito especial para você, Dirlei,  pelo  Dia das Mães.

Aos meus leitores o agradecimento pela paciência de ler o que escrevo.   Até a próxima.

           Prof Nazir


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Lycurgo Negrão

          Em minha postagem do dia 31 de outubro de 2011, sob o título “Largo do Aconchego”  mencionei a troca de correspondência entre mim e o poeta morretense radicado em Ponta Grossa, Lycurgo Negrão. Na crônica, faço  menção ao retorno de uma das cartas a mim enviada e devolvida pelo correio, que acabou dando motivo a que eu escrevesse o artigo, enviando-o, em anexo, ao Lycurgo. A carta que enviei a ele, a resposta que recebi juntamente com os versos em torno do assunto  ,demonstrando as qualidades do notável trovador morretense que me honra com a sua amizade, encontram—se nas correspondências que trocamos e que, por entender que merecem registro, vão adiante transcritas: 

            De mim para o Lycurgo:

                                               Morretes,24 de março de 2001

Prezado amigo Lycurgo:

          Depois da ida e volta de sua correspondência volto a ligar-me com você e agora usando esta máquina que está sempre a nos dar rasteiras. De fato eu já estava com a sua carta pronta, quando senão quando, possivelmente por um toque errado numa das teclas,  sumiu o que eu havia escrito. E toca a escrever tudo novamente. 

          É o que dá.  A  gente não quer ficar para trás, parte para a comunicação eletrônica e até ficar plenamente habilitado no uso dela,apanha-se bastante.

           Mas, falemos do Largo do Aconchego, nome poético que poderia ser ressuscitado, desde que sugeríssemos a um dos vereadores, e ele entrasse com o projeto para a mudança. Mas aí vem o pior. Onde colocaríamos o José Pereira dos Santos Andrade? Embora não seja morretense de nascimento, ele nasceu em Paranaguá, tinha suas raízes aqui. Presidente da Província no período de 1896 a 1900, foi figura brilhante, tanto nesse cargo como nos inúmeros outros  que ocupou. Veja você que a denominação do nosso Largo, só com essas trocas de nome já vem fazendo história. Primeiro era Largo Dr. José Pereira esquecendo-se o Santos Andrade. Segundo consta ele era conhecido aqui como o “Zé Pereira”. Anos atrás o prefeito da época entendeu que o nome do logradouro deveria ter o nome completo do homenageado.  E mandou projeto para a Câmara mudando para Largo Dr. José Pereira dos Santos Andrade. Ficou quilométrico. Antes ficasse  Dr. José Pereira. Ou mudasse para Santos Andrade como é a denominação da praça em Curitiba. A verdade é que, como está é um desconforto. Damos o nosso endereço e a pessoa começa a anotar, nome por nome e quase sempre sentimos nela, ora curiosidade, ora  impaciência. Aguardo suas valiosas sugestões a respeito.

          Junto estou enviando um folheto comemorativo aos cinco anos da Galeria Trombini.

          Como é, vai sobrar um tempinho aí nos seus afazeres para voltar a estas paragens e nos dar o grande prazer de sua presença? Espero que sim e para breve.

          Meus agradecimentos pelos folhetos, pela Antologia*e principalmente pela atenção de que tenho sido alvo, sem dar, como seria de meu dever, a devida retribuição.

                                O fraternal abraço do

                                           Nazir

·        Lycurgo pertence à Academia de Letras dos Campos Gerais, sediada em Ponta Grossa. Ocupa a cadeira n° 002 com o pseudônimo de Porthus Mariani.. Em nossa troca de correspondência recebi dele um exemplar de cada uma das três antologias publicadas pela Academia. Na antologia n° 1  publicada em 2000, Lycurgo presenteia Antonina com seis produções poéticas com temas que enfocam lugares e lendas daquela cidade. Na antologia n° 2, publicada em 2003 é a vez de Morretes premiada com 10 produções em prosa e verso.. Na antologia n° 3 publicada em 2005 são 15(quinze) trabalhos em prosa e verso com temas de caráter geral(9) com temas de  Morretes(2) e de Ponta Grossa (4)


De Lycurgo para mim:


Ponta Grossa, 3 de julho de 2001
Prezado Nazir:



         Recebemos com muito apreço sua fraternal correspondência de 24 de março de 2001. Meus parabéns pela sua “computadorização” e minhas excusas pela demora desta resposta.
         
          Agradecemos a remessa do folheto comemorativo aos 5 anos da Galeria Trombini. Mais tarde escreveremos a respeito. Agora o assunto é o Zé Pereira, não o Zé Pereira do entrudo* mas o Zé Pereira do nosso  Largo do Aconchego.
          Todos nós morreteanos sabemos a contento que Morretes nasceu de frente para o Nhundiaquara (Cubatão de antigamente). Taba dos Carijós, posto dos canoeiros do Contrato, o primeiro caminho do povoado, o caminho histórico, partiu da Rua de Baixo(atual Coronel Modesto), passando pelo Rubicundo (barranca da Cachoeira da Vergonha), rua da Matriz(atual General Carneiro), Rua da Boa Vista(atual João de Almeida), Largo Telles(atual Largo José Pereira dos Santos Andrade) terminando no Largo da Parada(atual Lamenha Lins).
           Desse caminho pioneiro, dos rastros autóctones, das pegadas adventícias, partiram todos os outros caminhos que urbanizam atualmente a nossa Terra.
          Mas veja o esquecimento, não existe nenhuma ruazinha com o nome Carijó,nem uma referência na Praça das Nações, onde estão ausentes também os africanos.
          O Largo Telles, quando mudou de nome, ficou nominalmente do mesmo tamanho. Agora, acrescentar o “Santos Andrade” é colocar santo demais na mesma capela.
           José Pereira dos Santos Andrade ficaria bem melhor noutro logradouro, na Praça das Nações, por exemplo, (antiga Rômulo Pereira).* 
          O José Pereira convive bem com o Largo do Aconchego. O Santos Andrade despoetizou, concordo com você.

          Com os votos de saúde e bem estar extensivos à Exma. Família, o “arrivederci” e o grande abraço de sempre.

Cordialmente
Lycurgo
  • Entrudo : nome antigo de Carnaval. Zé Pereira: nome de uma marchinha muito cantada nos Carnavais de antigamente.
  • A rua Romulo José Pereira, inicia-se na atual Praça dos Imigrantes (apelidada Praça das Nações) e segue adiante atravessando a rua 15 de Novembro e indo terminar na rua Conselheiro Sinimbu. Interessante que se o nome deste último logradouro fosse nome mesmo e não apelido, ficaria mais fácil trocar o Praça das Nações pelo de  Praça Santos Andrade.e aí a   solução proposta pelo Lycurgo caberia como uma luva.A Praça das Nações passaria a chamar-se Praça Santos Andrade, salvando-se a homenagem devida ao ex Prefeito Rômulo José Pereira, e o Largo José Pereira dos Santos Andrade, receberia o poético nome de Largo do Aconchego..O nome Praça dos Imigrantes “amarra” pelo seu significado uma vez que se refere às quatro etnias(portuguesa, alemã, italiana e japonesa) que foram responsáveis pelo sadio fluxo migratório que o município recebeu. Diante de tudo isso não vejo outra solução senão aquela que sugeri em meu artigo: apelidar.  Nesta Terra e também em outras paragens apelidam-se  logradouros sem a menor cerimônia e “impunemente”.  A Alameda João de Almeida também se  chama Rua das Flores. A Praça dos Imigrantes, acabamos de ver, também se chama Praça das Nações. Por que o   Largo Dr. José Pereira dos Santos Andrade não se chamaria também Largo do Aconchego.?,  

Agora o comentário em versos que esse trovador maravilhoso me enviou juntamente com a carta.                                   

LARGO DR. JOSÉ PEREIRA

Cognominado de Largo  do  Aconchego
este logradouro escreveu o nome por ex-
tenso atualmente(Largo Dr. José Pereira
dos Santos Andrade) 


                                 Este Largo antigamente
                                 Largo Telles se chamou
                                 E o conchego deste largo
                                 Quanta história aconchegou



                                                           Pois até José Pereira
                                                           Que este largo homenageou
                                                           Acatando o nome antigo
                                                           O seu nome abreviou


                                   História e poesia
                                   Seja aqui, seja onde for,
                                   Seja Telles ou Pereira
                                   Tem conchego e tem amor



                                                              
Mas depois,  José Pereira
O seu nome encompridou
O conchego é sempre o mesmo
Compridão, despoetizou.

Porthus Mariani


          Em dias do mês de março próximo passado, obtive  o endereço e o telefone do Lycurgo, graças ao confrade Marcelo Geraldo Matos, um pontagrossense que aportou em nosso rincão           onde  ocupa na Justiça o cargo de escrivão criminal.. e, ao que tudo indica, caminha para se tornar um morretense adotivo.Com o número do telefone não perdi tempo. Consegui um contacto com o Lycurgo, pedi notícias e ele me disse que tudo estava bem com exceção de um edema em um dos pés.do qual estava se tratando. Prometi uma visita, ele alegremente disse que me aguardava. Tão logo surgiu a oportunidade, embarquei num ônibus da Princesa dos Campos, com a Zelinda “a tiracolo” e embarcamos ao encontro do grande amigo.. Chegamos por volta das 14 horas, à modesta  mas acolhedora residência situada no Bairro Uvaranas, e ali permanecemos até as 17 horas. Foram  3 horas de   agradabilíssimas conversas  e pudemos constatar que apesar dos noventa e seis anos o nosso anfitrião revelava uma lucidez de fazer inveja e muita vitalidade apesar dos cuidados  no caminhar a que se obrigava por causa da perna doente..Tiramos fotos que vão aqui publicadas


Bem amigos, já falei demais. Mas terei prazer em oportunamente voltar  a esse assunto.
Um abraço a todos do

Nazir                  

sexta-feira, 23 de março de 2012

UM CASO DE E.Q.M.( Experiência de quase morte)

Em minha última postagem prometi trazer a narrativa da experiência vivida pelo meu grande amigo Eloi Fumaneri, com base na entrevista que me foi dada por ele recentemente. Antes disso vamos procurar conhecer o fenômeno que, pesquisado a partir de 1975 tem hoje catalogados dezenas de casos em todo o mundo.
            Garimpando nas fontes , colhi as informações que se seguem:
            O termo experiência de quase morte ou E.Q.M. refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente por motivo de hipóxia (baixo teor de oxigênio) cerebral geralmente derivada de paradas cardiorrespiratórias, sendo as mais divulgadas o efeito-túnel e a experiência fora-do-corpo(EFC ou OOBE,  também denominada autoscopia). O termo foi cunhado pelo Dr. Raymond Moody em seu livro Vida Depois da Vida, escrito em 1975.
            As pessoas que viveram o fenômeno relatam, geralmente, uma série de experiências comuns, descritas nos estudos de Elizabeth Kubler-Ross(1967) tais como:
·         Um sentimento de paz interior;
·         a sensação de flutuar acima do seu corpo físico;
·         a impressão de estar em um segundo corpo, distinto do corpo físico;
·         a percepção da presença de pessoas à sua volta;
·         a visão de seres espirituais;
·         visão de 360°;
·         sensação de que o tempo passa mais rápido ou mais devagar;
·         ampliação de vários sentidos;
·         a sensação de viajar através de um túnel intensamente iluminado no fundo(efeito túnel);

Nesse espaço a pessoa que vive a EQM percebe a presença do que a maioria descreve como um “ser de luz”, embora seu significado possa variar conforme os arquétipos culturais, a filosofia ou a religião pessoal. O portal entre essas duas dimensões é também descrito como a fronteira entre a vida e a morte. Por vezes, alguns pacientes que viveram essa experiência relatam que tiveram de decidir se queriam ou não regressar à vida física. Muitas vezes falam de um campo, uma porta, uma sebe ou um lago, como uma espécie de barreira que, se atravessada, implicaria não regressarem ao seu corpo físico.

Mudanças psicológicas e comportamentais: após a experiência de quase-morte, muitas pessoas declaram ter alterado seus pontos de vista em relação ao mundo e às outras pessoas. As mudanças comportamentais geralmente  são significativamente positivas, e o principal fator para a mudança é a perda do medo da morte (tanatofobia). Em geral, a pessoa diz enxergar o mundo de maneira mais vívida, ser inundada por sentimento de bondade e amor ao próximo, ter vontade de ajudar os necessitados, sentir abertura a uma forma de religiosidade não dogmática e as crenças orientais como a reencarnação, aceitar-se mais e aceitar mais os outros, perder o sentido da importância do ego e se preocupar menos com as opiniões dos outros. Essas pessoas alegam que passaram a valorizar mais as suas vidas e as dos outros, reavaliaram os seus valores, a ética e as prioridades habituais e tornaram-se mais serenas e confiantes.
             
               Atentemos agora para os acontecimentos protagonizados pelo Sr. Eloi Fumaneri, na recuada data de 21 de novembro de 1992. Acometido de fortes dores abdominais, e atendido pelo Dr. Dilberto Consentino, foi-lhe, por aquele facultativo, diagnosticada uma peritonite aguda, mal que, pela sua gravidade, pedia internamento para uma cirurgia de urgência, o que foi providenciado com o encaminhamento para a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Já no nosocômio, por volta das sete da noite, iniciaram-se as providências e os exames que confirmariam o diagnóstico vindo de Morretes: peritonite aguda decorrente de uma apendicite supurada. Às 7,30 teve início a cirurgia que se prolongou até as 4 da madrugada.Nessa hora, já transferido para a UTI, o paciente despertou com muitas dores,  . A partir daqui abramos espaço para que, com suas próprias palavras, o Eloi relate tudo o que se passou com ele.
            -  Deviam ser cinco da manhã quando perdi os sentidos e  comecei a ouvir as palavras dos médicos  e os ruídos  dos aparelhos, permitindo-me entender que eles estavam tentando me reanimar. Logo a seguir encontrei-me em ambiente estranho, as dores desapareceram eu senti que uma mão segurava fortemente o meu ombro direito impedindo que eu me voltasse para identificar o dono da mão. Fui sendo conduzido até chegarmos a um lugar onde um grande número de pessoas se encontrava, todos vestindo uma espécie de quimono de cor marrom e na cabeça um chapéu  também marrom terminando em bico. Tudo indicava que aquelas pessoas participavam de um ritual estranho, pois havia muita fumaça que saía do piso onde se encontravam e das mãos e dos olhos dos próprios seres que ali  estavam. Uma roda estava formada e dentro dela executavam uma espécie de dança, havendo um grupo que parecia comandar e outro que era comandado, estes, constantemente tentando sair da roda sendo impedidos pelos outros que usavam para tal fim uma coisa parecida com ripas de madeira. Gemidos e até uivos eram ouvidos indicando ser aquele um lugar de sofrimento. A certa altura a mão que segurava meu ombro levou-me a fixar um ponto no recinto onde pude ver uma pessoa que eu conhecia e que era já falecida.Depois direcionou para outro ponto e mais outro onde pude ver mais duas pessoas também conhecidas minhas e já falecidas. A seguir ouvi, pela primeira vez a voz do dono da mão que me disse: viu mas não viu, o que me levou a interpretar que me estava vedado revelar quem eram as três pessoas que eu acabara de ver. Finda a primeira fase do acontecimento,  fui reconduzido, sempre pela mão pousada firmemente no meu ombro, ao recinto da UTI, onde acordei, melhor dizendo, ressuscitei, para alívio dos médicos e de minhas irmãs que acompanhavam aflitas os procedimentos médicos.Com a volta  ao  corpo e a recuperação  dos sentidos  senti novamente as fortes dores que  suportei até o novo apagão, por volta das seis horas da manhã.
              Antes de afastar-me de corpo pela segunda vez, pude ainda ouvir os ruídos da instrumentação colocada em serviço para a nova batalha médica visando a minha ressuscitação, a fala dos médicos um dos quais disse; tire essas duas choronas daí, referindo-se a minhas irmãs. E, enquanto a UTI se movimentava para trazer-me da volta eu dava início ao segundo “passeio” no espaço, conduzido de novo pela mão firme pousada em meu ombro. Curioso, mas não podendo olhar para trás, divisei apenas o dedo indicador da mão que me segurava o ombro e me conduzia. Desta vez o ambiente era ao ar livre. Um grande número de pessoas com traje branco, todas tendo  sobre a cabeça uma aura luminosa estavam postadas de frente para três pessoas. Sentado em um trono,um homem de barba avermelhada e um cajado na mão,  ladeado por uma figura masculina com o aspecto de Jesus apresentando uma chaga no ventre e marcas de prego nos antebraços e do outro lado uma mulher jovem, de grande beleza, trajada de branco e com um manto azul na cabeça. O homem e a mulher que ladeavam o ancião sentado no trono, lembravam Jesus e Maria bem como os via em estampas,  pinturas e esculturas encontráveis principalmente nas igrejas. O homem sentado no trono com o cajado na mão, apesar do aspecto de ancião tinha a pele lisa.Percebi pelo movimento dos lábios, que ele falava, mas o som de sua voz não chegava até mim.. Finalmente a mão pousada no meu ombro direcionou-me para o lado e disse-me: vá. E sem me ser possível explicar como, fui impulsionado e daí a instantes lá estava eu novamente no corpo ouvindo todos os ruídos da instrumentação da UTI, as vozes dos médicos e as dores que passei a sentir com grande intensidade.
              Por volta das oito, oito e dez da manhã, novo apagão. Novamente os ruídos da instrumentação médica, as vozes dos médicos na nova tentativa de me ressuscitar.  e novamente a mão no meu ombro que me conduziu para um lugar onde havia uma espécie de parede feita de vidro opaco. A mão pousada no meu ombro esticou-se e abriu uma pequena janela por onde olhei e vi arbustos enfileirados com flores de cores variadas .As fileiras se  estendiam por enorme distância a ponto de perderem-se no horizonte azul. Do ambiente, com uma paisagem muito bonita, vinham sons de vozes humanas que cantavam e também um canto de pássaros semelhantes ao dos pardais. Depois de olhar a paisagem ouvi a voz da entidade que sustinha o braço sobre o meu ombro dizer: aqui vai ser o seu lugar. Imediatamente perguntei: por onde vou entrar? E a resposta veio: você não vai entrar agora, sua missão na Terra ainda não terminou, há pessoas que dependem de você e por isso você vai viver mais um pouco. Aí eu tentei me virar ele me impediu e eu perguntei: quanto vai ser esse pouco? E a resposta dele foi a seguinte: não olhe para trás que atrás estou eu.Vá e anuncie. Regressei novamente ao corpo e com ele a volta dos ruídos, da fala dos médicos e as dores quase insuportáveis. Quando pude abrir os olhos e a visão me permitiu examinar o ambiente da UTI, pude divisar na parte superior de uma das portas uma cruz, símbolo do Cristo e então dirigi-me a ele mentalmente e supliquei  que, se era dele a visão que eu tivera que me libertasse ou me aliviasse das dores insuportáveis que eu estava sentindo . De fato, depois dessa prece senti que as dores foram aliviando a ponto de torná-las suportáveis. Isso tudo por volta das oito e meia. Entre onze e doze horas eu já estava no quarto, sentado na cama e praticamente sem dores. Antes disso um dos médicos que fazia parte da equipe que me atendera, em face da minha surpreendente recuperação disse: se existem milagres, hoje, aqui neste hospital aconteceu um.  Soube depois o porquê dessa afirmação: as pessoas que são vítimas de uma peritonite aguda tem um índice mínimo de sobrevivência. Um por cento, isto  é de cada cem só se salva um.
              Tudo normalizado, quando pude voltar para casa e para as minhas atividades normais, surpreendi-me com  as mudanças que em mim mesmo pude constatar. Além de se manifestar em mim a faculdade das premonições, passsei a enxergar o mundo e as pessoas   com mais amor, com tolerância em relação aos defeitos alheios, com um impulso para ajudar , fosse quem fosse. Em alguns momentos, nem sempre, sou capaz de saber com antecipação se a pessoa com quem estou conversando está falando a verdade. Previ com significativa antecedência o falecimento de meu irmão e de meu cunhado. Se o que aconteceu comigo ajuda e eu estou convicto que sim, sinto-me feliz e só posso agradecer a Deus por tudo.

              Caros amigos: agora eu, deixo de ser mero espectador e retomo a palavra. Agradeço demais a esse amigo, o Eloi, que tem na sinceridade o seu ponto mais alto e que não só por isso tem a minha incondicional admiração, mas também pela sua coragem de expor a verdade  sem a preocupação do julgamento, positivo ou negativo
a que as suas palavras conduzam.  Parabens ao Eloi,
              Um abraço a todos do
              Prof. Nazir