quarta-feira, 23 de março de 2011

ANTÔNIO JOSÉ GONÇALVES FILHO(Tone)

Quando fiz com aquele homem extraordinário os meus primeiros contactos no ano de 1952, ele já ostentava uma invejável folha de serviços prestados ao Movimento Espírita  e à  comunidade morretense. E apesar de não ter pertencido  ao grupo fundador da entidade, nela ingressou um ano após a fundação, no  ano de 1936, ocupando, com o tempo,  diversos cargos na Diretoria, principalmente como presidente, imprimindo o dinamismo com o qual se tornaria conhecido e reverenciado.  Foi obra dele a primeira e única sede própria da União Espírita Beneficente Jesus Maria José  situada até hoje na rua Santos Dumont n° 108. Para construí-la encampou a idéia de primeiramente constituir uma associação de caráter beneficente como indica a primeira denominação que teve a entidade., utililizando-se da emissão de ações resgatáveis.  Quando ingressei no MovimentoEspírita,                                                                                                            
Tone estava internado num hospital para tuberculosos em tratamento. e ocupava a presidência  o Sr. Teodaldo Silvério (conhecido por Dadinho). A tuberculose até então incurável, já tinha tratamento,  que combinava penicilina com repouso. Curado, Tone voltou às atividades e então teve início entre mim e ele uma convivência que duraria 17 anos (de 1952 até  a sua desencarnação ocorrida em 1969). Nesse período, não apenas ele me proporcionou um aprendizado valioso no campo da contabilidade, da correspondência , da assistência social, do Espiritismo e dos conhecimentos gerais, como me permitiu testemunhar as outras  obras que  ele fundou e dirigiu e que se somariam  às  já realizadas antes da doença.
        No retorno às atividades desse valoroso companheiro foram construídas as casas que deveriam completar o número das que serviriam no funcionamento do então denominado Asilo a Velhice Desamparada de Morretes, que já iniciara suas atividades de asilamento quando da construção das primeiras residências. As casas eram de madeira, pouco menores que as atuais de alvenaria e somariam um total de 15.
         Em 1954, três anos após o seu retorno do sanatório, Tone fundou, juntamente com dois companheiros, Aristides José de Moraes e Honório Mello, o Retiro Fraterno para Velhos e Meninos.  Para a futura instituição adquiriu um terreno de 7 hectares situado a mais ou menos 2 quilômetros da cidade, na estrada que liga ao Porto de Cima. Entre a aquisição do terreno e o funcionamento da instituição que numa primeira etapa deveria abrigar apenas meninos, passaram-se oito anos. Inaugurado em 1962, o Retiro começou a funcionar abrigando  trinta e cinco meninos na faixa de idade de 10 a 14 anos.
         Em 1968, Tone, já aposentado, e que até então sempre militara na política  trabalhando nas campanhas em favor de candidatos que segundo o critério dele seriam úteis a Morretes e às obras sociais que  havia construído e dirigia, resolveu candidatar-se ao cargo de prefeito. Pela primeira vez esteve em campo oposto a seus antigos patrões, os Malucelli, na empresa dos quais trabalhara por longos anos. A disputa política que se feriu envolveu como principais adversários dois homens altamente conceituados. Tone de um lado e o Dr. Alcídio Bortolim do outro. A eleição foi ganha pelo Dr. Bortolim que  já fora vereador  e que, com a eleição para prefeito iniciava uma etapa nova em suas atividades políticas. Tone, entristecido, nos confidenciou que o resultado de uma eleição deve ser encarado com naturalidade pelo perdedor. Mas a campanha,  naquele tempo,  como infelizmente ainda é nos dias atuais,  ganha contornos de um “vale tudo”, isto é, os cabos eleitorais não medem as palavras para se referir ao adversário político.E até a honestidade de um homem da envergadura moral do Tone foi questionada com afirmações levianas dos que usam a maledicência como arma eleitoral. Será difícil afirmar que a doença que se manifestaria nele, um câncer intestinal, foi o resultado do desgosto que se seguiu à campanha política e ao  resultado da eleição mas não se pode descartar essa possibilidade.
         Seis meses depois da manifestação da doença, ou seja no dia 6 de junho de 1969, Tone desencarnou. Ficamos nós entregues a profundas reflexões. Vimos que o fim de sua missão aqui no mundo  foi marcado pelo  revés, não apenas de uma derrota eleitoral, inesperada para ele, mas também de ver grandes amigos seus, inclusive alguns  que pela mão dele haviam recebido  precioso apoio em horas difíceis, num átimo transformarem-se, em seus mais ferozes inimigos e detratores.  Estariam  tais acontecimentos fazendo parte  de seu programa missionário, como dura lição a ser aprendida? 
         Eu mesmo que recebia dele um legado de enormes responsabilidades, um Centro Espírita em atividade e como departamentos  dele duas instituições assistenciais, uma de idosos, outra de meninos, ambas em pleno funcionamento, fiquei, pelo menos nos primeiros momentos, muito inseguro quanto ao que  me reservaria o futuro. Estaria apto para assumir, por longo tempo, as funções que o Tone, com sua inegável capacidade exercera até aquele momento?
         Quando eu disse “por longo tempo” era porque  a realidade já me havia mostrado que eu estava herdando não apenas os difíceis encargos que tinham estado nos ombros dele mas também uma liderança que levaria a repetir o cargo de presidente por longo tempo  e a razão estava à vista: o enorme patrimônio representado por vários imóveis, com tudo o que neles funcionava  e que deveria ser administrado  com um número diminuto de colaboradores .
              Voltarei a falar dessa memorável e veneranda figura nestas memórias que enfocam a história, até aqui da União Espírita Jesus Maria José, e de uma parte de minha própria história , no período em que  Alto me concedeu o privilégio de ser um servidor daquela também veneranda entidade.
              Até a próxima.
               Prof.  Nazir

6 comentários:

  1. Nazir,
    ha pessoas muito especiais que cruzam o nosso caminho, o Sr e D. Zelinda, são exemplos disso.
    Adoro vcs!
    abs

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  2. Prof. Nazir:

    Parabéns pela matéria sobre a pessoa do sr. Tone.
    Como vale a pena lembrar dos valores da nossa terra que aos poucos estão desaparecendo ou mantendo-se no anonimato talvez motivados (ou desmotivados) pela banalização de valores humanos como a cidadania, o voluntariado comunitário, a vontade de servir ao próximo despretensiosamente e tantas outras virtudes.
    O “seu” Tone conforme o chamávamos, foi um desses homens íntegros e dedicados que tenha certeza, deixou profundas marcas meritórias não somente pela sua vida familiar e social, mas também como professor a quem, nos meus dezoito anos de idade, tive a honra de substituí-lo por sua escolha para lecionar a disciplina de Contabilidade na Escola de Comércio de Morretes. E embora diferente da minha crença, reconheço também no seu Tone a sua valorosa e leal dedicação ao Espiritismo, doutrina que liderava e professava convictamente.
    Abraços
    Diác. Narelvi.

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  3. Parabéns Nazir! Este BLOg está muito bom, leitura agradável e memórias lembradas e enaltecidas.

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  4. Olá Nazir! Passei o link deste seu texto à uma amiga que se considera sobrinha do seu Tone. Ela me enviou este testemunho e me autorizou passar para você.

    "Obrigada, Mauro. Muito me emocionou. Lembranças veio à tona. Apesar do tio Tone não ser meu tio de sangue, mas o foi pelas circunstâncias, eu o amava muito, isto é, minha família toda o amava. Tínhamos como um homem correto, honesto, justo. Sempre fazendo o bem sem olhar a quem. E por ele ter sido como foi, talvez os "invejosos" o tenham injustiçado quase no final da sua vida. Mas o que sempre nos interessou foi de como ele era, como o víamos, como o amávamos.

    Fui testemunha da morte dele, e te digo que apesar dos anos, nunca saiu da minha mente nem da minha frente. Foi a coisa mais maravilhosa que pude presenciar, apesar das circusntância, que ninguém quer para ninguém, principalmente das pessoas que queremos bem, que é a morte.

    Lembro que cheguei no quarto, atrás da minha tia, o quarto na penumbra e ele de repente sentou-se na cama, o que não fazia desde que adoeceu, olhou para um canto do quarto e esticou o braço, abriu uma das mãos e fez o gesto de quem cumprimentava alguém. Olhei para o canto, eu e minha tia, e deparamos com uma luz, tão brilhante que só vendo para descrever, nisso deitou outra vez e disse: Jesus veio me buscar.Entrou em coma e alguns minutos depois deu o último suspiro. Quer coisa mais linda que isso? Só uma pessoa como o tio Tone para conseguir aquilo nos últimos momentos de vida. Com tudo o que aconteceu, ficamos tranquilos pois sabíamos que ele realmente estava junto a Jesus.

    Mais uma vez, Mauro, obrigada por ter me presenteado esse comentário, bem no ínicio de um ano novo.
    GRANDE abraço"

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  5. Está ai uma das pessoas mais ricas em fé que nós a familia Ferreira conheçemos e que tivemos o previlégio de fazermos parte da vida dele "tio Tone"casado com a irmã de minha mãe tia Hortencia,um homem que tb fez caridades.Saudades desse grande homem,obrigada Nazir por nos presentear com esse carinho que Deus te abençoe

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  6. Mauro:
    Primeiramente quero agradecer as tuas providências no sentido de fazer chegar à mim os dois comentários da sobrinha do Tone que conheci ainda criança mas que agora, tantos anos já decorridos não poderia identificar mesmo que soubesse o nome dela. Mas conheci a família, o casal constituído pelo Sr. Ferreira, comerciante em Antonina e asposa, D. Guilhermina, irmã de D. Hortensia. esposa do Tone. Então vou te solicitar o obséquio de passar a ela o meu recado.
    Prezada amiga:
    Somos dois privilegiados. Eu por ter convivido anos com aquela figura excepcional que foi o Tone e você,pelos laços de parentesco e por estar presente quando o valoroso companheiro despedia-se dando por encerrada e bem cumprida a missão que o trouxera ao mundo. Tive uma curta convivência com vocês mas o suficiente para uma forte amizade com seus pais. Gostaria de ter notícias como por exemplo se a família permanece em Antonina ou já se transferiram para outro lugar. Com os três filhos do Tone tive contatos raros, soube que Antoninho e Ricardo são falecidos. Da Marilena, so contatos rápidos quando ela visitou Morretes depois não mais tive notícias. Passo agora a você meu e-mail
    para que se você quiser mande notícias. Um grande abraço do Nazir E-mail:jdahermorretes@hotmail.com


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