domingo, 23 de novembro de 2014

TAMBURUTACA



                  Quando percorremos embarcados, os rios do nosso litoral que sofrem a influência das marés, e que têm em suas margens, grandes extensões de manguezais, ouvimos, no silêncio daquelas regiões ermas, só quebrado pelo canto dos pássaros, fortes estampidos, muito semelhantes aos que são produzidos pelas espingardas de ar comprimido.
                  Nas minhas andanças de navegador solitário, descendo certa vez de caiaque o rio Jacareí, que é um dos inúmeros afluentes do rio Nhundiaquara, depois de ouvir os estampidos, e movido pela natural curiosidade, perguntei na primeira oportunidade a um dos freqüentadores dos manguezais, que ruído era aquele. A resposta veio prontamente: - É a tamburutaca. Segundo o meu informante a tamburutaca seria um caranguejo de médio porte,bem menor do que aquele que, caçado nos manguezais, frequenta nossas mesas entre os meses de novembro e fevereiro. Como o animal produzia o estampido não me foi explicado e embora o meu desejo de saber preferi  o conhecimento por futuras pesquisas,
                  Como minha curiosidade não estava satisfeita, lembrei-me de consultar o dicionário. No Aurélio, lá estava a palavra e sua significação. “Tamburutaca (var. de tambarutaca, tamarutaca), subst.fem.bras. Designação comum às espécies de crustáceos estomatópodes, de porte avantajado que medem até 34 cm de comprimento embora muitas espécies não ultrapassem  4 cm de comprimento. Com aspecto de louva-deus ou de lagosta difere desta última por serem desprovidas de antenas longas e terem três segmentos de cefalotórax livres bem como pelas patas anteriores preênseis. Vivem no fundo do mar, ocultando-se na lama ou areia e são carnívoras. (sin. Mãe do camarão, lagosta-gafanhoto).“

               Como a versão do dicionário divergia daquela dada pelas pessoas que freqüentavam os manguezais e tinham nessa crença uma tradição, fiquei na dúvida até conhecer um pescador de profissão, que há muitos anos na atividade, conhecia  bem a fauna marinha do nosso litoral.Morador da Ilha do Mel acumulava a prática da pesca com a de dono de uma pousada. Amigo de meu irmão Mussi, quando ele ainda se encontrava  conosco,  acabei eu também fazendo amizade com o pescador. Na primeira oportunidade que se ofereceu quis saber dele que bicho era, afinal, a tamburutaca. E a descrição que ele fez batia com a do dicionário. Agora sim, não havia mais dúvida. Perguntei a ele como eu podia conhecer o animal. E aí ele fez muito mais do que eu esperava. Propô-se a capturar uma , congelá—la e dar-me de presente. Exultei com o oferecimento. Ficou combinado que, quando ele tivesse em mãos um ou dois exemplares, guardá-los-ia no congelador e que quando eu visitasse novamente a ilha, que o procurasse.
                  Com efeito, tempos depois, quando  voltei à ilha e o procurei, lá estavam a minha espera dois exemplares de bom tamanho que me foram entregues por seus familiares já que ele estava ausente ocupado com suas  atividades pesqueiras. Foi pena porque depois disso não tive mais contacto com ele para perguntar e obter a informação de onde e como se tinha dado a captura. Resumindo, voltei para casa levando os bichos com a idéia concretizada posteriormente  de acomodá-los em vidros com álcool para fins de conservação. Presenteei um dos vidros a um amigo que, como eu,era interessado no assunto, e fiquei com o outro por um espaço de tempo que calculo em dois anos. Descartei quando percebi que a matéria em conservação estava se diluindo. Afinal, embora não conhecesse tudo sobre os crustáceos já avançara bastante nas informações.
                  Há semanas, consultando o Google sobre o assunto encontrei informações de várias fontes, escolhi uma que, penso, respondia a inúmeras perguntas que ainda estavam na minha mente. Transcrevo-a abaixo:
                 

                  Stomatopoda
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Estomatópode

Odontodactylus scyllarus
Famílias
Ver texto.
Estomatópode é o nome comum dado aos crustáceos marinhos classificados na sub-classe Hoplocarida, ordem Stomatopoda. Existem cerca de 400 espécies, caracterizadas principalmente pela morfologia de sua segunda pata torácica, que é modificada em apêndice subquelado, lembrando uma pata de louva-a-deus.[1]
Índice
 [esconder
Os estomatópodes são predadores ativos que caçam presas com o auxílio de um sentido de visão muito apurado e capaz de interpretar polarização no espectro ultravioleta e infravermelho). Apresentam uma grande variação de tamanho, que pode ir de poucos milímetros até aproximadamente 40 cm nas espécies maiores. Eles vivem em fundo consolidado, lodoso ou ainda arenoso, onde cavam seus buracos ou aproveitam-se dos orifícios deixados por outros animais para neles se instalar. São animais exclusivamente carnívoros, alimentando-se de camarões, caranguejos, moluscos, peixes e até mesmo outros da mesma ordem. O segundo par de patas, muito desenvolvido, é usado tanto para atacar a presa como para se defender. O urópodo, quando aberto, também funciona para defesa, como um escudo, fechando a galeria em que o animal esteja instalado. A fêmea desova no local onde se abriga e, em caso de perigo, enrola os ovos como uma bola, prendendo-os junto ao corpo até encontrar um abrigo mais protegido.
Também conhecidas como esquilas ou lagosta-boxeadora, espalhadas pelas costas dos mares tropicais e subtropicais. Além das patas, elas apresentam uma silhueta característica, devido ao grande comprimento aparentemente de seu abdómen. Os ovos ficam ligados por uma massa gelatinosa que a mãe carrega contra o ventre até que eclodem, limpando-os sem parar.
São animais que apresentam comportamentos sociais muito variados, desde ameaças visuais contra predadores até comportamentos de côrte. De acordo com a anatomia da sua pata raptorial é possível distinguir entre dois grupos funcionais, as perfuradoras (spearers) ou as esmagadoras (smashers), sendo que cada um dos tipos apresenta sua própria variação comportamental e até mesmo de habitát.
As maiores esmagadoras, tais como exemplares de Odontodactylus scyllarus, são capazes de desferir um dos mais rápidos e violentos golpes do reino animal, um soco que pode apresentar a aceleração de um tiro calibre .22 (equivalente a 720km/h) e uma força de impacto de 60 kg/cm²[2] . Essa força esmagadora é a responsável pelo seu título de "lagosta-boxeadora" e é capaz de facilmente quebrar a carapaça de um caranguejo, as conchas duras e calcificadas de gastrópodes ou até mesmo quebrar o vidro reforçado de um aquário[3] [4]
Estomatópodes podem ser encontrados em quase todo o litoral brasileiro, mas não são animais fáceis de se observar pelos seus hábitos mais furtivos. Devem ser manuseados com muita cautela pois são animais preparados para se defender com força, caso sejam incomodados.

Visão

Esses animais possuem o mais complexo sistema de visão de cores do mundo animal, porque eles podem ver 16 cores primárias, por possuirem 16 pigmentos diferentes em sua retina.
Nossos olhos possuem três tipos desses receptores - que respondem à luz azul, verde e vermelha -, que nos permitem perceber o espectro de cores que vemos. Os cães contam com apenas dois tipos de cones (verde e azul), e é por isso que eles veem tons de azul, verde e um pouco de amarelo. Muitos anfíbios, répteis, aves e insetos possuem quatro tipo de cones, o que significa que espécies dessas classes conseguem ver cores que o nosso cérebro é incapaz de processar. Algumas espécies específicas de borboletas e possivelmente pombos possuem cinco cones de percepeção de cor, o que aumenta ainda mais a quantidade de pigmentos que eles são capazes de perceber. O sistema de visão dos estomatópodes possui doze cones sensíveis à luz e outros quatro que filtram a luz (16 cones no total), o que lhes permite ver cores polarizadas e imagens multispectrais5 .
Como cada cone pode ver cerca de 100 cores, os estomatópodes são capazes de ver 10¹² cores, ou seja, 1 trilhão de cores. Em comparação, o olho humano vê 106 cores, ou seja, 1 milhão de cores apenas. A visão dos estomatópodes é sensível à luz ultravioleta, mas ainda é desconhecido se ela pode distinguir a luz infravermelha6 .

 




                                    De tudo o que foi escrito nas linhas supra, podemos, embora sem a certeza absoluta que seria desejável, tirar as conclusões seguintes: a) como vivem em fundo consolidado lodoso ou arenoso, as tamburutacas podem habitar os manguezais; b) as que lá vivem,tendo nos caranguejos um dos componentes da sua dieta, caçam o crustáceo para devorá-lo; c) a caçada das tamburutacas são feitas ao ar livre, quando a maré está baixa e só por isso provoca o estampido fortíssimo ao esmagar com as patas as suas presas antes de devorá-las; d) são animais de hábitos furtivos, portanto ariscos e difíceis de serem vistos.
                                    Encerro pedindo desculpas por te-los cansado com tantos nomes científicos alguns de leitura difícil. Com o meu abraço até a próxima.

                                    Prof. Nazir