Aconteceu no apagar das luzes de 2012, mais precisamente no dia 29 de dezembro próximo passado. A notícia só nos chegou no dia 21 deste mês transmitida pelo companheiro de Doutrina Marcelo, que a trouxe de Ponta Grossa, onde Lycurgo residia. Para confirmação e detalhes liguei para a residência situada no bairro de Uvaranas. Atendeu-me dona Jaqueline, a senhora que, com muito carinho cuidava dele. Ainda emocionada contou-me ela que os sintomas que levaram Lycurgo ao internamento, indicavam um mal de maior gravidade do que o edema em uma das pernas, que lhe tolhiam os movimentos, e para o qual estava recebendo tratamento. Dona Jaqueline, pedindo ao médico que dele cuidava, que traçasse o quadro real indicativo do estado de saúde do querido enfermo, ouviu o diagnóstico: câncer no fígado. Nada a fazer senão dar-lhe toda a assistência até a hora do desenlace. "Morreu nos meus braços" disse-me ela sem poder conter o choro. Desculpou-se por não ter me comunicado o falecimento, pois, procurando entre as anotações do Sr. Lycurgo não encontrou o número de meu telefone.
Foram 96 os anos da última existência física desse morretense, dedicado às letras, à Doutrina Espírita, à assistência social, à família que ele constituiu com filhos adotivos, aos amigos entre os quais, privilegiado me incluo, mas sobretudo uma alma boníssima. Certamente o plano espiritual te-lo-á recebido com muito júbilo, enquanto que nós, agora saudosos, guardaremos a lembrança de uma presença muito marcante pelas virtudes e pelo grande coração, marcas registradas do Lycurgo.
Em sua homenagem, transcrevo aqui, dois trabalhos poéticos que fariam parte do livro que já tinha título, "Fogo de Chão", mas que não chegou a ser editado:
Pergunto aos meus conterrâneos
No meu jeito de assuntá,
Dos morros morreteanos
Quem conhece o Sarapiá
Conhecê tem pouca gente
maioria ouviu falá,
mas, dos poucos que conhecem
vem coisa que vou contá
Só não sei se bem contado
ou se dá pra acreditá,
no entanto é coisa nossa
tem jeito de averiguá
Redizem os que conhecem
tal e qual vou recontá,
que caboclo pinta braba
não pisa o Sarapiá.
Se pisá o morro apincha
não adianta arrevesá,
valentão vira caguincha
morro abaixo a trambecá.
Portanto meus conterrâneos
Este é o morro Sarapiá,
E os informes consentâneos
Para no morro chegá.
Quem não tiver qualidade
Não provoque o Sarapiá
Pois desinfelicidade
É ser pinchado de lá.
Nota do
autor: Página calcada numa historieta de Marciano Ribeiro de Campos, anhaiense
gandavo,* famoso pelas suas porandubas** e marandubas.***
*Gandavo:
bras., contador de histórias e fábulas.Mentiroso. ** poranduba: história,
notícia, relação. Palavra de origem Tupi. *** maranduba: também de origem Tupi
significa história de guerra. Bras., história inverossímil ou fabulosa.
Nota do
redator: O trabalho acima foi publicado na Antologia n° 2 da Academia de Letras
dos Campos Gerais, editada em 2003. Lycurgo ocupava na Academia a cadeira n° 2
com o pseudônimo Porthus Mariani.
BALOUÇOS
DE FLOR AO VENTO
NA
VERDEJANTE RAMADA,
MINHA
GENTE É CUMPRIMENTO
DA
MANHÃ ENSOLARADA
TUDO
NA VIDA ENVELHECE
AQUI,
ALI, ONDE FOR,
MAS
UMA COISA ACONTECE
NUNCA
ENVELHECE O AMOR
QUANDO
A SAUDADE ALVOROÇA
AS
COISAS DO CORAÇÃO,
FICA
TRISTE A MINHA CHOÇA
AUMENTANDO
A SOLIDÃO
OS
PINHEIROS MEDITANDO
NAS
HORAS DO ENTARDECER
PARECEM
MONGES REZANDO
PELO
SOL QUE VAI MORRER
O
SOFRIMENTO INFLIGE
A
MALDADE E O MALFEITOR
MAS,
QUEM PERDOA E CORRIGE
É
O CANSAÇO E O AMOR
QUANDO
A MORTE FOR CHEGANDO
OLHE
BEM SEM SE ASSUSTAR
DOUTRO LADO PRA VOLTAR
É
A PRÓPRIA VIDA CHAMANDO
Nota do redator: o trabalho acima
foi publicado na Antologia n° 3 da Academia de Letras dos Campos Gerais,
editada em 2005.
Voltarei a falar de Lycurgo em
oportunidades futuras. Seus trabalhos, não só em versos, mas também em prosa,
estão a minha disposição em arquivos que organizei para abrigar os que me foram
enviados por ele durante os períodos em que nos correspondemos.
Até a próxima.
Prof. Nazir