sexta-feira, 19 de julho de 2013

MAURÍCIO,MEU FILHO. (III)


Prossigo com os meus relatos enfocando episódios não  mencionados nas postagens anteriores. São registros com detalhes apenas, mas importantes por envolver pessoas que enriquecem estas memórias, pelas manifestações de carinho, de solidariedade e de reconhecimento, diante dos quadros difíceis  vividos por nós, amigos e parentes do Maurício.
Quando acabamos de atravessar a data de 11 de julho, deste ano de 2013, que marca vinte e quatro anos da despedida do Maurício, o sentimento de tristeza dá lugar ao de orgulho e alegria, não só pela grandeza da tarefa que realizou, quando mergulhou no trabalho, como também pelo exemplo de dedicação deixado aos seus pósteros. Evoco agora  alguns episódios que permaneceram vivos em minha memória.

No Aeroporto Afonso Pena, quando o avião da Varig, que transportava o corpo de meu filho, estacionou para o desembarque, à vista da urna funerária, só não fraquejei, graças ao amparo de duas grandes amigas que estavam ao meu lado naquele momento: uma, a Geseli, esposa do Scorsin, que  tive a oportunidade de rever e com ela me congratular, na   posse do marido, como Governador do Distrito 473 do Rotary Club Internacional, cuja cerimônia, recentemente ocorreu, e para qual fui gentilmente convidado; a outra, Maria de Lourdes  Montenegro, socióloga, que foi professora do Maurício e dele se tornou grande amiga; a ela, voltarei a me referir  mais adiante.
Corrigindo um lapso cometido na postagem anterior, registro aqui a presença do ex-prefeito, ex-governador e atual senador da República, Roberto Requião, nas exéquias que, em memória de meu filho, foram realizadas no dia 15 de julho de 1989,no cemitério Iguaçu.Na ocasião, fui procurado por ele, que me transmitiu, em suas palavras,  quão grande era a consideração que devotava ao Maurício,  um de seus auxiliares no então recente mandato  como Prefeito de Curitiba.
      Em outubro de 1989, Maurício recebeu postumamente do Governo Brasileiro, a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco. A notícia da outorga, da solenidade realizada no Palácio Iguaçu e dos fatos que cercaram o acontecimento, foi objeto de publicação pela Gazeta do Povo, na edição do dia 2 de novembro de 1989.  O que há de principal na reportagem  transcrevo abaixo a partir do título:

                            Homenagem para Daher

Não é uma compensação mas um reconhecimento do Brasil pelo trabalho que Maurício Daher desenvolvia”. A frase foi dita pelo embaixador Bernardo Pericás enviado do Itamaraty e representando o presidente José Sarney na solenidade realizada ontem no Palácio Iguaçu, de homenagem póstuma a esse engenheiro agrônomo paranaense assassinado em missão de trabalho em Moçambique, em julho último. O embaixador entregou à sua esposa, diante dos pais de Maurício, de seus filhos e demais familiares, a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, outorgado pelo Decreto 8669 de 13 de outubro de 1989.
A solenidade teve a presença do governador Álvaro Dias, do presidente do ITCF Stênio Jacob e de Luiz Alberto Scorsin, um dos diretores da empresa Agrária, Engenharia e Consultoria, para a qual Maurício Daher trabalhava quando foi morto por guerrilheiros moçambicanos.
O embaixador Bernardo Pericás foi o primeiro a discursar na oportunidade, destacando sua honra por ter sido designado a fazer essa entrega por se orgulhar de ser paranaense como ele. Disse que teve a chance de abrir a embaixada brasileira em Moçambique no ano de 1976, e por ter lá estado, sabe das dificuldades existentes naquele país africano..

                                                  
                         JOVEM COM ESPERANÇA

O secretário da Agricultura, Osmar Dias, falou em nome do Governo do Paraná, lembrando as qualidades do engenheiro agrônomo que era o Maurício Daher, tendo participado da equipe que elaborou o plano agrícola e de abastecimento paranaense, que é destaque nacional. Segundo ele, Maurício participou da preparação do relatório de  impacto ambiental da bacia do rio Tibagi e deixou uma série de outras obras na Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Como sua ex-professora, a socióloga Maria de Lourdes Montenegro falou em nome da família do homenageado, citando suas qualidades de jovem que tinha esperança neste país. Lembrou que tinha sido destacada para viajar junto com Maurício até Moçambique, para lá também trabalhar no projeto da Agrária, fato este que foi muito comemorado pelos dois. Mas ela não pôde seguir junto com ele, ficando para viajar depois, e foi nesse ínterim que o agrônomo foi assassinado. “O importante na vida do Maurício não foi apenas o que ele fez, mas no que ele acreditava.”, concluiu assim suas palavras.

 SUA OBRA

Maurício Daher nasceu em Morretes, a 25 de novembro de 1954 e foi formado pela Universidade Federal do Paraná em 1976. Maurício fez especialização em Extensão Rural pela Emater-PR e também formou-se em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos do Paraná. Fez especialização em Engenharia de Projetos pela Sengri, foi técnico na área de Cooperativismo na Emater-PR e  técnico na Coordenadoria do Planejamento Agrícola da Seag. Foi diretor no Instituto de Terras, Cartografia e Florestas do Paraná,, Secretário do Abastecimento da Prefeitura de Curitiba e por último, técnico da Agrária, Engenharia e Consultoria Ltda.
Dentre várias atividades desenvolvidas prestou assistência ao setor cooperativista na região Oeste do Paraná; foi executor de cooperativismo na Cooperativa Agrícola Vale do Piquiri em Palotina; coordenador adjunto de Planejamento  na Seag-PR; supervisor   na Coordenadoria Estadual de Cooperativismo da Seag-PR; coordenador dos trabalhos de regularização fundiária e de recursos naturais das regiões Centro e Oeste do Paraná; coordenador dos primeiros projetos de assentamento de agricultores sem terra no Paraná no âmbito da PNRA; coordenador das áreas administrativa e operacional da política de abastecimento para o município de Curitiba, entre outras atuações.
Em Moçambique,  Maurício trabalhava num projeto de assentamento de 8.050 famílias deslocadas pela guerra, numa área de 4.000 km2 no distrito de Nhamatanda. Ele coordenava o projeto de Extensão Rual em apoio a esses deslocados de guerra.

Encerro, com esta terceira etapa, o retrospecto da vida do Maurício, de muita intensidade, desde os verdes anos, quando ainda era um estudante aplicado, até o período de trabalho intenso, nas tarfefas que assumiu, durante os 13 anos situados entre a sua formatura em 1976 e a sua despedida em 1989. Muito me orgulho de tê-lo sob meus cuidados antes de sua autonomia e se alguma falha minha ocorreu no trabalho de orientá-lo, penso tê-la  compensado pelo exemplo de honestidade que sempre pude oferecer. E se nos alegramos hoje pelo adulto saído do nosso lar, admirado por todos  que o conheceram, pela correção na conduta e pela competência no trabalho,isso se deve à maturidade de seu espírito, certamente haurida em laboriosas vidas anteriores e aos esforços educativos da mãe dele, minhas ex-esposa a quem rendo minhas homenagens.
Amigos e amigas, obrigado pela paciência e até a próxima.
                Prof. Nazir