Prossigo com os meus
relatos enfocando episódios não mencionados nas postagens
anteriores. São registros com detalhes apenas, mas importantes por envolver
pessoas que enriquecem estas memórias, pelas manifestações de carinho, de
solidariedade e de reconhecimento, diante dos quadros
difíceis vividos por nós, amigos e parentes do Maurício.
Quando acabamos de
atravessar a data de 11 de julho, deste ano de 2013, que marca vinte e quatro
anos da despedida do Maurício, o sentimento de tristeza dá lugar ao de orgulho
e alegria, não só pela grandeza da tarefa que realizou, quando mergulhou no
trabalho, como também pelo exemplo de dedicação deixado aos seus pósteros.
Evoco agora alguns episódios que permaneceram vivos em minha
memória.
No Aeroporto Afonso Pena,
quando o avião da Varig, que transportava o corpo de meu filho, estacionou para
o desembarque, à vista da urna funerária, só não fraquejei, graças ao amparo de
duas grandes amigas que estavam ao meu lado naquele momento: uma, a Geseli,
esposa do Scorsin, que tive a oportunidade de rever e com ela me
congratular, na posse do marido, como Governador do Distrito
473 do Rotary Club Internacional, cuja cerimônia, recentemente ocorreu, e para
qual fui gentilmente convidado; a outra, Maria de
Lourdes Montenegro, socióloga, que foi professora do Maurício e dele
se tornou grande amiga; a ela, voltarei a me referir mais adiante.
Corrigindo um lapso
cometido na postagem anterior, registro aqui a presença do ex-prefeito,
ex-governador e atual senador da República, Roberto Requião, nas exéquias que,
em memória de meu filho, foram realizadas no dia 15 de julho de 1989,no
cemitério Iguaçu.Na ocasião, fui procurado por ele, que me transmitiu, em suas
palavras, quão grande era a consideração que devotava ao
Maurício, um de seus auxiliares no então recente
mandato como Prefeito de Curitiba.
Em
outubro de 1989, Maurício recebeu postumamente do Governo Brasileiro, a Comenda
de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco. A notícia da outorga, da solenidade
realizada no Palácio Iguaçu e dos fatos que cercaram o acontecimento, foi
objeto de publicação pela Gazeta do Povo, na edição do dia 2 de novembro de
1989. O que há de principal na reportagem transcrevo
abaixo a partir do título:
Homenagem para Daher
“Não é uma compensação
mas um reconhecimento do Brasil pelo trabalho que Maurício Daher desenvolvia”. A
frase foi dita pelo embaixador Bernardo Pericás enviado do Itamaraty e
representando o presidente José Sarney na solenidade realizada ontem no Palácio
Iguaçu, de homenagem póstuma a esse engenheiro agrônomo paranaense assassinado
em missão de trabalho em Moçambique, em julho último. O embaixador entregou à
sua esposa, diante dos pais de Maurício, de seus filhos e demais familiares, a
Comenda de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, outorgado pelo Decreto 8669 de 13
de outubro de 1989.
A solenidade teve a
presença do governador Álvaro Dias, do presidente do ITCF Stênio Jacob e de
Luiz Alberto Scorsin, um dos diretores da empresa Agrária, Engenharia e
Consultoria, para a qual Maurício Daher trabalhava quando foi morto por
guerrilheiros moçambicanos.
O embaixador Bernardo
Pericás foi o primeiro a discursar na oportunidade, destacando sua honra por
ter sido designado a fazer essa entrega por se orgulhar de ser paranaense como
ele. Disse que teve a chance de abrir a embaixada brasileira em Moçambique no
ano de 1976, e por ter lá estado, sabe das dificuldades existentes naquele país
africano..
JOVEM
COM ESPERANÇA
O secretário da
Agricultura, Osmar Dias, falou em nome do Governo do Paraná, lembrando as
qualidades do engenheiro agrônomo que era o Maurício Daher, tendo participado
da equipe que elaborou o plano agrícola e de abastecimento paranaense, que é
destaque nacional. Segundo ele, Maurício participou da preparação do relatório
de impacto ambiental da bacia do rio Tibagi e deixou uma série de
outras obras na Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Como sua ex-professora, a
socióloga Maria de Lourdes Montenegro falou em nome da família do homenageado,
citando suas qualidades de jovem que tinha esperança neste país. Lembrou que
tinha sido destacada para viajar junto com Maurício até Moçambique, para lá
também trabalhar no projeto da Agrária, fato este que foi muito comemorado
pelos dois. Mas ela não pôde seguir junto com ele, ficando para viajar depois,
e foi nesse ínterim que o agrônomo foi assassinado. “O importante na vida do
Maurício não foi apenas o que ele fez, mas no que ele acreditava.”, concluiu
assim suas palavras.
SUA OBRA
Maurício Daher nasceu em
Morretes, a 25 de novembro de 1954 e foi formado pela Universidade Federal do
Paraná em 1976. Maurício fez especialização em Extensão Rural pela Emater-PR e
também formou-se em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos
do Paraná. Fez especialização em Engenharia de Projetos pela Sengri, foi
técnico na área de Cooperativismo na Emater-PR e técnico na
Coordenadoria do Planejamento Agrícola da Seag. Foi diretor no Instituto de
Terras, Cartografia e Florestas do Paraná,, Secretário do Abastecimento da
Prefeitura de Curitiba e por último, técnico da Agrária, Engenharia e
Consultoria Ltda.
Dentre várias atividades
desenvolvidas prestou assistência ao setor cooperativista na região Oeste do
Paraná; foi executor de cooperativismo na Cooperativa Agrícola Vale do Piquiri
em Palotina; coordenador adjunto de Planejamento na Seag-PR;
supervisor na Coordenadoria Estadual de Cooperativismo da
Seag-PR; coordenador dos trabalhos de regularização fundiária e de recursos
naturais das regiões Centro e Oeste do Paraná; coordenador dos primeiros
projetos de assentamento de agricultores sem terra no Paraná no âmbito da PNRA;
coordenador das áreas administrativa e operacional da política de abastecimento
para o município de Curitiba, entre outras atuações.
Em
Moçambique, Maurício trabalhava num projeto de assentamento de 8.050
famílias deslocadas pela guerra, numa área de 4.000 km2 no distrito de
Nhamatanda. Ele coordenava o projeto de Extensão Rual em apoio a esses
deslocados de guerra.
Encerro, com esta
terceira etapa, o retrospecto da vida do Maurício, de muita intensidade, desde
os verdes anos, quando ainda era um estudante aplicado, até o período de trabalho
intenso, nas tarfefas que assumiu, durante os 13 anos situados entre a sua
formatura em 1976 e a sua despedida em 1989. Muito me orgulho de tê-lo sob meus
cuidados antes de sua autonomia e se alguma falha minha ocorreu no trabalho de
orientá-lo, penso tê-la compensado pelo exemplo de honestidade que
sempre pude oferecer. E se nos alegramos hoje pelo adulto saído do nosso lar,
admirado por todos que o conheceram, pela correção na conduta e pela
competência no trabalho,isso se deve à maturidade de seu espírito, certamente
haurida em laboriosas vidas anteriores e aos esforços educativos da mãe dele,
minhas ex-esposa a quem rendo minhas homenagens.
Amigos e amigas, obrigado
pela paciência e até a próxima.
Prof.
Nazir