quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EPISÓDIOS QUE MERECEM REGISTRO(II)





            No capítulo anterior vimos que de acordo com decisão do Conselho Deliberativo da União Espírita Jesus Maria José, a entidade aceitava a proposta da Prefeitura Municipal de Morretes para a desapropriação amigável de dois terrenos, um urbano outro rural. Do terreno urbano já falamos com todos os detalhes na postagem anterior. Falaremos agora do outro, o rural.

            Adquirido em 1963, o terreno, situado na estrada do Porto de Cima, media mais ou menos 3 alqueires e  destinava-se a uma futura expansão do Retiro Fraterno que deveria  instalar ali a seção para velhos. O tempo demonstrou ser inviável essa expansão pois a própria seção dos meninos funcionava com grandes dificuldades, face a carência de recursos materiais e humanos. Ficou então disponível para que a ele se desse outra finalidade.  Foi quando um grupo industrial de Curitiba, a Corola S.A.     com o objetivo de montar uma indústria de liofilização(processo mais avançado que o comum na produção de alimentos desidratados) entrou em contacto com as autoridades municipais manifestando a intenção de instalá-la em Morretes . Pediam, entre outros incentivos, que a Prefeitura doasse o terreno onde deveria funcionar a indústria. Com a aquiescência das autoridades municipais procuraram um imóvel, deram com os olhos no terreno da entidade, comunicaram  ao Prefeito a escolha,e o resultado  foi uma nova proposta  de desapropriação amigável. Ao discutir esta segunda proposta, o Conselho Deliberativo demorou-se nos estudos acabando por aprová-la, rendendo-se aos argumentos que constam na ata n° 29: “A instalação da indústria, que pelo seu porte dará um considerável impulso na economia do município, terá um grande alcance social que, em suma, é um dos objetivos perseguidos pelo setor assistencial da União Espírita Beneficente Jesus Maria José.” Estas considerações, inseridas na ata que registra a decisão do Conselho Deliberativo da União Espírita Jesus Maria José, demonstra com clareza que a entidade, pelos seus representantes, estava imbuída do espírito comunitário e agia também em função dela(a comunidade) e não somente para atender aos interesses de suas atividades normais. Desse modo, temos como  perfeitamente válidos, tanto o ato em si, como o preço pago que, como o outro, foi arbitrado em Cr$ 30.000,00(trinta mil cruzeiros)pagável em 5 promissórias de Cr$ 5.000,00, mais uma de Cr$ 3.000,00 e os restantes Cr$ 2.000,00 em dinheiro. Talvez uma avaliação mais rigorosa acrescentasse um valor maior do que aquele que foi pago mas como a entidade não tem fins lucrativos e é, por isso mesmo, uma organização comunitária,  como  também o é a Prefeitura, e os objetivos da aquisição dos terrenos significaria uma poderosa alavanca de progresso para o Município, temos para nós que as operações foram caracterizadas pela maior lisura como o faria o grande idealista que nos antecedeu na direção da entidade, Antonio José Gonçalves Filho, o nosso querido companheiro Tone. Há também a considerar a forma de pagamento indicando as dificuldades financeiras por que passava a  Prefeitura, capitaneada pelo então Prefeito Dr. Sidney Antunes de Oliveira,  compulsada que foi a custear duas desapropriações quase ao mesmo tempo, para garantir que dois importantes acontecimentos na vida do Município chegassem a bom termo.

            A empresa Corola S.A. ainda com as obras em andamento, recebeu proposta de uma outra do interior paulista, a Lioval, Alimentos Liofilizados e das negociações resultou que a Lioval assumiu a empresa, passando, a partir de então a comandar todos os procedimentos necessários ao início das atividades. A Lioval, quando então instalada,  começou a funcionar em meio a muitas dificuldades e após alguns meses teve que encerrar as

 atividades, frustrando as esperanças dos morretenses de contar com uma indústria que muito prometia pelo seu potencial de movimentar a economia do município e gerar empregos. Mas, enquanto funcionou deu a conhecer o quanto estava capacitada a oferecer produtos industriais de avançada elaboração, produzindo não apenas a banana liofilizada, um granulado de cor amarela e de excelente sabor, podendo ser consumido em forma de mingau  ou na composição de outros produtos alimentícios. Não quero avançar mais nessas informações sem apontar a fonte de onde elas emanaram. Trata-se do nosso grande amigo Sato que veio a Morretes como engenheiro químico da indústria e que depois do fechamento permaneceu por aqui, montando o restaurante hoje tão conhecido pela população, não só pelo cardápio esmerado como também pelo lugar aconchegante onde ele se situa. Sato tornou-se um morretense por adoção ao integrar-se, pelo casamento, na família Smaniotto/Latuf, e ao montar um restaurante onde os clientes se sentem em casa, a ponto de se tornar um ponto de encontro entre morretenses que há muito tempo não se veem. De fato quantas pessoas que há muito tempo eu não via tive o prazer de rever depois de anos, no restaurante do Sato?

            Voltemos agora ao restante das informações que me foram passadas. A empresa  chegou a produzir  sob encomenda do exército brasileiro rações liofilizadas individuais destinadas aos

soldados.   A quantidade era enorme e mobilizou o trabalho intenso dos funcionários. Nas praias do Paraná produzia-se(não sei se ainda se produz) um abacaxi de excelente qualidade. Como aquele produto, se liofilizado teria mercado certo na Europa, um plantador fez grandes lavouras do produto visando a fornecer a matéria prima para a produção pela Lioval. As perspectivas eram as melhores. Mas... ficou tudo no caminho. As razões da interrupção do funcionamento que decretaria o fechamento definitivo, Sato apontou-me, surpreendendo-me pela visão administrativa que possui. Só não as reproduzo aqui por entender serem ociosas face ao tempo dilatado que nos separa dos acontecimentos.         O que sobrou  dessa experiência?  Claro que o ideal seria que a empresa não encerrasse suas atividades e proporcionasse a Morretes tudo o que dela se esperava. Mas não aconteceu e a expectativa de que alguma outra empresa do ramo comprasse a propriedade e continuasse, alimentou por muito tempo as esperanças dos morretenses. Nenhuma empresa do ramo se interessou ou se houve interesse as negociações não chegaram a bom termo.  Enquanto esperavam,  os sócios remanescentes  foram vendendo o maquinário até que ficasse apenas o prédio. Os anos foram se escoando e somente em 2007, prédios e terreno foram adquiridos para que se montasse ali  a CTM Papéis .  Cabe o esclarecimento que a participação da União Espírita Jesus Maria José, em relação ao terreno, já cessara no ano de 1974 com a desapropriação pela Prefeitura.  A alienação, ocorrida em 2007, resultou da venda, que teve como adquirente o grupo industrial que montaria a CTM Papéis, e como vendedores os sócios remanescentes da Lioval.

            Grato pela atenção e até a próxima

            José Daher

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