Quando percorremos
embarcados, os rios do nosso litoral que sofrem a influência das marés, e que
têm em suas margens, grandes extensões de manguezais, ouvimos, no silêncio
daquelas regiões ermas, só quebrado pelo canto dos pássaros, fortes estampidos,
muito semelhantes aos que são produzidos pelas espingardas de ar comprimido.
Nas
minhas andanças de navegador solitário, descendo certa vez de caiaque o rio
Jacareí, que é um dos inúmeros afluentes do rio Nhundiaquara, depois de ouvir os
estampidos, e movido pela natural curiosidade, perguntei na primeira
oportunidade a um dos freqüentadores dos manguezais, que ruído era aquele. A
resposta veio prontamente: - É a tamburutaca. Segundo o meu informante a
tamburutaca seria um caranguejo de médio porte,bem menor do que aquele que,
caçado nos manguezais, frequenta nossas mesas entre os meses de novembro e
fevereiro. Como o animal produzia o estampido não me foi explicado e embora o
meu desejo de saber preferi o
conhecimento por futuras pesquisas,
Como
minha curiosidade não estava satisfeita, lembrei-me de consultar o dicionário.
No Aurélio, lá estava a palavra e sua significação. “Tamburutaca (var. de
tambarutaca, tamarutaca), subst.fem.bras. Designação comum às espécies de
crustáceos estomatópodes, de porte avantajado que medem até 34 cm de
comprimento embora muitas espécies não ultrapassem 4 cm de comprimento. Com aspecto de
louva-deus ou de lagosta difere desta última por serem desprovidas de antenas
longas e terem três segmentos de cefalotórax livres bem como pelas patas
anteriores preênseis. Vivem no fundo do mar, ocultando-se na lama ou areia e
são carnívoras. (sin. Mãe do camarão, lagosta-gafanhoto).“
Como a versão do dicionário divergia daquela dada pelas pessoas que freqüentavam
os manguezais e tinham nessa crença uma tradição, fiquei na dúvida até conhecer
um pescador de profissão, que há muitos anos na atividade, conhecia bem a fauna marinha do nosso litoral.Morador
da Ilha do Mel acumulava a prática da pesca com a de dono de uma pousada. Amigo
de meu irmão Mussi, quando ele ainda se encontrava conosco,
acabei eu também fazendo amizade com o pescador. Na primeira oportunidade
que se ofereceu quis saber dele que bicho era, afinal, a tamburutaca. E a
descrição que ele fez batia com a do dicionário. Agora sim, não havia mais
dúvida. Perguntei a ele como eu podia conhecer o animal. E aí ele fez muito
mais do que eu esperava. Propô-se a capturar uma , congelá—la e dar-me de
presente. Exultei com o oferecimento. Ficou combinado que, quando ele tivesse
em mãos um ou dois exemplares, guardá-los-ia no congelador e que quando eu
visitasse novamente a ilha, que o procurasse.
Com
efeito, tempos depois, quando voltei à
ilha e o procurei, lá estavam a minha espera dois exemplares de bom tamanho que
me foram entregues por seus familiares já que ele estava ausente ocupado com
suas atividades pesqueiras. Foi pena
porque depois disso não tive mais contacto com ele para perguntar e obter a
informação de onde e como se tinha dado a captura. Resumindo, voltei para casa
levando os bichos com a idéia concretizada posteriormente de acomodá-los em vidros com álcool para fins
de conservação. Presenteei um dos vidros a um amigo que, como eu,era
interessado no assunto, e fiquei com o outro por um espaço de tempo que calculo
em dois anos. Descartei quando percebi que a matéria em conservação estava se
diluindo. Afinal, embora não conhecesse tudo sobre os crustáceos já avançara
bastante nas informações.
Há
semanas, consultando o Google sobre o assunto encontrei informações de várias
fontes, escolhi uma que, penso, respondia a inúmeras perguntas que ainda
estavam na minha mente. Transcrevo-a abaixo:
Stomatopoda
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Odontodactylus scyllarus |
Famílias
|
Ver texto.
|
Estomatópode é o nome comum dado aos crustáceos marinhos classificados na sub-classe Hoplocarida,
ordem Stomatopoda. Existem cerca de 400 espécies, caracterizadas
principalmente pela morfologia de sua segunda pata torácica, que é modificada
em apêndice subquelado, lembrando uma pata de louva-a-deus.1
Índice
Os estomatópodes são predadores ativos que caçam presas com o auxílio de
um sentido de visão muito apurado e capaz de interpretar polarização no
espectro ultravioleta e infravermelho). Apresentam uma grande variação de tamanho,
que pode ir de poucos milímetros até aproximadamente 40 cm nas espécies
maiores. Eles vivem em fundo consolidado, lodoso ou ainda arenoso, onde cavam
seus buracos ou aproveitam-se dos orifícios deixados por outros animais para
neles se instalar. São animais exclusivamente carnívoros, alimentando-se de
camarões, caranguejos, moluscos, peixes e até mesmo outros da mesma ordem. O
segundo par de patas, muito desenvolvido, é usado tanto para atacar a presa
como para se defender. O urópodo, quando aberto, também funciona para defesa,
como um escudo, fechando a galeria em que o animal esteja instalado. A fêmea
desova no local onde se abriga e, em caso de perigo, enrola os ovos como uma
bola, prendendo-os junto ao corpo até encontrar um abrigo mais protegido.
Também conhecidas como esquilas ou lagosta-boxeadora, espalhadas pelas
costas dos mares tropicais e subtropicais. Além das patas, elas apresentam uma
silhueta característica, devido ao grande comprimento aparentemente de seu
abdómen. Os ovos ficam ligados por uma massa gelatinosa que a mãe carrega contra
o ventre até que eclodem, limpando-os sem parar.
São animais que apresentam comportamentos sociais muito variados, desde
ameaças visuais contra predadores até comportamentos de côrte. De acordo com a
anatomia da sua pata raptorial é possível distinguir entre dois grupos
funcionais, as perfuradoras (spearers) ou as esmagadoras (smashers), sendo que
cada um dos tipos apresenta sua própria variação comportamental e até mesmo de
habitát.
As maiores esmagadoras, tais como exemplares de Odontodactylus scyllarus, são capazes de desferir um dos mais rápidos e violentos golpes do
reino animal, um soco que pode apresentar a aceleração de um tiro calibre .22 (equivalente
a 720km/h) e uma força de impacto de 60 kg/cm²2 . Essa força esmagadora é a responsável pelo
seu título de "lagosta-boxeadora" e é capaz de facilmente quebrar a
carapaça de um caranguejo, as conchas duras e calcificadas de gastrópodes ou
até mesmo quebrar o vidro reforçado de um aquário3 4
Estomatópodes podem ser encontrados em quase todo o litoral brasileiro,
mas não são animais fáceis de se observar pelos seus hábitos mais furtivos.
Devem ser manuseados com muita cautela pois são animais preparados para se defender
com força, caso sejam incomodados.
Visão
Esses
animais possuem o mais complexo sistema de visão de cores do mundo animal,
porque eles podem ver 16 cores primárias, por possuirem 16 pigmentos diferentes
em sua retina.
Nossos olhos
possuem três tipos desses receptores - que respondem à luz azul, verde e
vermelha -, que nos permitem perceber o espectro de cores que vemos. Os cães
contam com apenas dois tipos de cones (verde e azul), e é por isso que eles veem
tons de azul, verde e um pouco de amarelo. Muitos anfíbios, répteis, aves e insetos possuem quatro tipo de cones, o que
significa que espécies dessas classes conseguem ver cores que o nosso cérebro é
incapaz de processar. Algumas espécies específicas de borboletas e possivelmente pombos possuem cinco cones de percepeção de
cor, o que aumenta ainda mais a quantidade de pigmentos que eles são capazes de
perceber. O sistema de visão dos estomatópodes possui doze cones sensíveis à
luz e outros quatro que filtram a luz (16 cones no total), o que lhes permite
ver cores polarizadas e imagens multispectrais5 .
Como cada
cone pode ver cerca de 100 cores, os estomatópodes são capazes de ver 10¹²
cores, ou seja, 1 trilhão de cores. Em comparação, o olho humano vê 106 cores, ou seja, 1 milhão de cores
apenas. A visão dos estomatópodes é sensível à luz ultravioleta, mas ainda é
desconhecido se ela pode distinguir a luz infravermelha6 .
De tudo o
que foi escrito nas linhas supra, podemos, embora sem a certeza absoluta que
seria desejável, tirar as conclusões seguintes: a) como vivem em fundo
consolidado lodoso ou arenoso, as tamburutacas podem habitar os manguezais; b)
as que lá vivem,tendo nos caranguejos um dos componentes da sua dieta, caçam o
crustáceo para devorá-lo; c) a caçada das tamburutacas são feitas ao ar livre,
quando a maré está baixa e só por isso provoca o estampido fortíssimo ao
esmagar com as patas as suas presas antes de devorá-las; d) são animais de
hábitos furtivos, portanto ariscos e difíceis de serem vistos.
Encerro
pedindo desculpas por te-los cansado com tantos nomes científicos alguns de
leitura difícil. Com o meu abraço até a próxima.
Prof. Nazir
Ola seu Nazir.
ResponderExcluirLembrei que quando pescava ouvia barulhos no mangue parecidos com o informado pelo senhor, um estalo aqui, outro lá .... Vou perguntar ao meu filho Marcos, pescador e ligado a pescadores da ilha Superagui para ver o que ele sabe a respeito. No mais tudo bem? Um abração e pena que faz tempo que não vejo o navegador solitário passar no rio, fundos da minha casa, mas compreendo, afinal, não é mais solitário.
Narelvi:
ResponderExcluirSeus comentários são sempre prazerosos para mim. Gostei particularmente sobre o solitário que eu era e que. agora não mais sou.
Muito bom que pelo Marcos você consiga mais informações sobre o assunto. Assim posso enriquecer o blog com mais informações. Agradeço sua atenção e mando meu abraço.
Do amigo Nazir
Karin Muller Malucelli Parabéns pela sua postagem! Nunca tinha ouvido falar sobre o Tamburutaca. O seu relato sobre sua curiosidade e como ocorreu o achado é muito bacana!
ResponderExcluirKarin:
ExcluirAgradeço o teu cumprimento pela minha última postagem. São os caminhos do mar que vamos desvendando e encontrando lá coisas interessantíssimas. Uma braço do
Nazir.