segunda-feira, 2 de maio de 2011

NO ENSEJO DO “DIA DAS MÃES” (I)




                

        No ensejo do Dia das Mães eu quero falar da minha. Dona Estelita que de registro de nascimento foi Rosa mas que ganhou esse carinhoso apelido graças à minha avó Joaquina, repetiu comigo o que aconteceu com ela:   começou a me chamar de Nazir quando de registro eu sou José. E pegou. Tudo bem, não só o apelido dela não a atrapalhou em nada, podendo eu dizer o mesmo em relação ao Nazir, nome pelo qual todos me conhecem.
Tivemos o privilégio, eu e meus  irmãos  de tê-la conosco até dezembro de 2008 quando ela fechou os olhos para o mundo da carne faltando apenas quatro meses para completar 103 anos.
        Recordo quando a família toda ainda morava em Morretes. Nossa casa tinha as portas sempre abertas para os adultos, amigos de meus pais e para os da ala jovem amigos nossos, os filhos. Muito bom recordar aquele tempo, com ricas passagens de demonstração de amizade, tanto da parte de nosso pai que trazia do meio árabe, donde provinha, uma tradição de hospitalidade. Mas era da parte de d. Estelita a maior solicitude com todos os que conosco conviviam nas muitas visitas que  recebíamos.
        Passo para os leitores a mensagem abaixo, expedida para a festa familiar comemorativa dos 100 anos dessa criatura extraordinária que aqui na terra me acolheu como filho.




OS 100 ANOS DE DONA ESTELITA
Mensagem do Prof. José Daher, na festa comemorativa, realizada na residência da família, no dia 14 de maio de 2006.

Mãe:

            Não estranhes  que eu  use a linguagem escrita para  dizer o quanto me alegro pela data de hoje.  A boa visão e a possibilidade de ler são os recursos preciosos com que a Bondade Divina te premiou, compensando a falta do órgão  auditivo, desgastado pela longa jornada existencial.
         Por isso, utilizando–me deste meio, estou  muito à vontade para te dizer, o quanto me sinto  feliz por ter o privilégio de contar com tua presença neste centenário de teu nascimento, e estou certo que assim pensam e sentem todos os demais familiares que  aqui se encontram, participando deste tão significativo encontro. E  quando falo em familiares, incluo o nosso querido caçula(*) que antecipou–se a nós na viagem que todos teremos que empreender um dia, deixando–nos saudosos e com a sensação de um imenso vazio. Anima– me  no entanto, a certeza de que ele, que era presença obrigatória em todas as reuniões familiares,  tornando   o ambiente  sempre agradável com a sua  contagiante alegria, está hoje conosco,  participando de nossa festa..
         Então mãe, se  os nossos olhos verterem lágrimas – e às vezes não há como estancá–las –  que elas sejam  de saudade ou de alegria, nunca de inconformação ou desespero. Afinal,   aqueles que nos deixaram são apenas ausentes, aguardando o     reencontro num tempo para nós impreciso, mas que acontecerá um dia, e nos devolverá a alegria de novamente  conviver com os que amamos, e que temporariamente nos deixaram.      .        
            Numa jornada centenária como a que empreendeste, pudemos nós, teus filhos, testemunhar  as tuas lutas, teu sacrifício, tua abnegação que te promovia à condição de verdadeira heroína, atuando anonimamente no recesso de nosso lar.
         Como companheira fiel  e como a mãe dedicada que sempre foste, coadjuvavas nosso pai nos cuidados em relação à prole,  mas, na verdade,  eras  tu quem conduzias, com firmeza e  serenidade  a nau familiar,  ora navegando em águas tranqüilas, ora  enfrentando  a agitação das borrascas.
           Depois, cada um de nós foi construindo sua  autonomia, o que   não impediu que buscássemos,  em tua companhia, em todas as oportunidades que se ofereciam, o aconchego, a expressão serena e bondosa, com que nos recebias,  capaz de acalmar as tempestades da alma, a que cada um de nós, pelas contingências da vida, estamos sujeitos.
           Mãe, perdoa–nos  se  expressamos o desejo de que  permaneças  conosco ainda por  muitos anos, contrariando a tua vontade  que é  a de  encerrar a tua jornada neste mundo  em breve tempo, porque o corpo está cansado e desgastado.    Deus, em sua infinita sabedoria, se assim dispõe, é porque a tua permanência aqui,  por útil e valiosa, é ainda indispensável, principalmente para nós, que temos em ti,  os elos de uma corrente que nos mantém unidos e solidários.
           Dá–nos a tua bêncão e deixe  que reverenciemos a tua figura de santa, juntando nossas mãos em prece de agradecimento pelo tesouro que a Bondade Divina nos permite conservar, que é a tua veneranda  presença junto de nós.
            Beijos do
             Nazir


(*)  Mussi, nosso irmão caçula, faleceu no mês de junho de 2004.  

5 comentários:

  1. Oi vô,

    uma delícia ler seu blog, dá pra sentir o agradável sabor de suas memórias. Continue pra sempre a nos dar esse prazer, por favor...
    Abraço de neto,

    GuGa

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  2. Oi Nazir
    Que linda homenagem voce fez para sua mãe, valeu ela esperar 100 anos para ouvir essa declaração Parabém D. Estelita pelo filho e pela família que a senhora construiu.

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  3. Nazir
    Eu já conhecia o texto "Os cem anos da Dona Estelita", mas li novamente e de novo achei lindo!
    Abraços
    Ligia

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  4. Falar de Dona Estelita é como falar de um anjo que passou pela terra e deixou uma estrela de muita luz.
    Fico feliz Nazir que vc pode fazer essa homenagem para sua mãe contando um pouquinho da sua história e do grande amor que tem por ela.
    Com carinho Zelinda.
    .

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